domingo, maio 24, 2009

SEQUESTRO...DE CARBONO

1) Aquilo a que se chama «captura ou sequestro de carbono», ou ainda «aprisionamento de carbono», no âmbito do tema das alterações climáticas, abrange, não apenas a procura de um método artificial de confinamento do carbono—evitando a sua saída para a atmosfera—mas principalmente tudo aquilo que há de mais natural: a absorção de carbono gasoso pelas plantas verdes, num processo que possibilitou a existência de um mundo habitável desde há muitos milhões de anos.
Assim, o Protocolo de Quioto, quando se refere ao mercado emergente de créditos de emissão de carbono, ou no capítulo dos «mecanismos de desenvolvimento limpo (medidas de compensação) refere-se ao valor das florestas e dos oceanos como a verdadeira e óbvia forma de captar e aprisionar o CO2 emitido.
Convém não perder isto de vista quando falamos de «aprisionamento» no sentido de métodos de engenharia tendentes a «prender» o CO2 em confinamentos diversos. Trata-se realmente de o «confinar» mais do que realmente o absorver e transformar. Ou como alguém dizia, há o «sequestro biológico» e tenta-se agora, em desespero de causa, inventar «sequestros geológicos».
2) -Seja como for, face ao relativo fracasso do cumprimento de Quioto— aliás ele próprio um tratado insuficiente, a pedir abordagens mais exigentes— tem emergido a intenção de criar processos tecnológicos de confinamento dos gases. Se um grande complexo industrial, uma central térmica, puder impedir as emissões de escaparem para a atmosfera, enviando-as para um «armazenamento» seguro, torna-se possível atenuar as restrições impostas e transferir o problema, por assim dizer.
Mas colocam-se questões:
--Há soluções desse tipo? A que preço? O custo compensa o investimento feito, ou por ser proibitivo mais vale conseguir os ganhos de eficiência e apostar no mercado de emissões?
---É seguro? Que sucederia se o CO2 confinado escapasse subitamente? Não será mais um legado funesto que se deixa às gerações vindouras?

Hoje parece consensual a ideia de que, mesmo que soluções tecnológicas possam ser viáveis e a custo compensador, esta solução será apenas um complemento, nunca «a» solução. Mas pode oferecer uma contribuição positiva pontual, em determinadas circunstâncias, desde que não se perca de vista o essencial— a redução drástica das emissões de gases com efeito de estufa e a ultrapassagem do paradigma das energias fósseis!

3) — Em Portugal, a ideia está a ter também seguimento: Na EDP e no INETI trabalha-se na pesquisa de soluções para a captura de carbono. A EDP é uma das participantes no projecto NanoGlowa, que visa desenvolver uma tecnologia nova para captura de CO2 nas centrais térmicas. O projecto envolve 26 empresas e instituições, entre as quais a Comissão Europeia, e tem um orçamento de 13 milhões de euros para uma tecnologia que passa pelo desenvolvimento de membranas com uma estrutura molecular que lhe confira capacidade de captação dos gases.
Um responsável da EDP disse que este tipo de técnicas, quando aplicadas, poderá ter como efeito o encarecimento da produção eléctrica, o que nos remete sempre para o problema dos custos.

4) – Como se processa? No mundo, que projectos estão já no terreno?
Antes do mais, diga-se que o sequestro de carbono deve ser ambientalmente aceitável, não deixando nenhum legado para as gerações vindouras, e respeitar os ecossistemas existentes; ser seguro, não podendo implicar níveis de descargas inesperadas de CO2 em grande escala; a quantidade de carbono capturado deve ser mensurável: deve ser economicamente viável, quando comparado com as outras opções de gestão do carbono; (definição dos promotores)

5) —Na Noruega, a cargo da Statoil, estão a ser desenvolvidos trabalhos ( na verdade, desde 1996) para a reinjecção de CO2 gerado pela produção de petróleo e gás natural, nos poços, num processo de « captura e armazenamento».
O CO2 é injectado em estado líquido em águas fossilizadas, no fundo de poços mortos de petróleo. Como o CO2 líquido é mais denso que a água, fica armazenado no fundo do mar por tempo indefinido, e não gera impactos substanciais no ambiente. O projecto chama-se « SACS-Saline Aquifer CO2 Storange» O armazenamento em aquíferos salinos( formação arenosa com 200m de espessura, 800-100 metros abaixo do fundo do mar) tem sido apontada como uma das soluções, mas a viabilidade económica não parece animadora—o processo norueguês revela um deficit do processo ( sobretudo devido ao custo da liquidificação do carbono antes do confinamento) face ao comércio dos créditos de carbono. Talvez a melhoria das tecnologias possa trazer novidades!

6) — Outro processo em estudo é do Instituto Federal de Tecnologia da Universidade de Zurique, assente em processos químicos de fixação do CO2 em minerais. Comprovadamente possível tecnologicamente, não o é ainda economicamente, porque são altos os custos do transporte e armazenagem dos componentes.
Já o MIT nos EUA aposta em projectos próximos dos da Noruega (descarbonização geológica em aquíferos salinos e semelhantes, e também aqui os custos são apontados como entrave: A captura e compressão do CO2 correspondem a 80% dos custos, para 20% atribuídos ao transporte e injecção do carbono.

7) — A localização dos «armazéns» é uma dor de cabeça para os investigadores.
No Japão— Laboratório de Engenharia Oceânica da Mitsubishi Heavy Industries---prevê-se o armazenamento nos oceanos. O processo resume-se à injecção do carbono em estado líquido no oceano, em águas muito profundas onde a pressão permita condicionar o CO2 durante séculos. Este processo exige enormes tubulações que conduzam o carbono até ao destino. Aí se formará uma autêntica lagoa de CO”2 e gerar-se-à eventualmente uma lenta absorção pela água do mar. Estes métodos levantam dúvidas ambientais e de segurança, ao que os cientistas japoneses respondem que «os oceanos já hoje absorvem 70% do CO2 produzido pelo Homem.» Não demasiado apaziguador!
Há também projectos a decorrerem na Argélia, onde a BP está a testar processos de armazenamento do CO2 produzido na extracção do gás natural, na Califórnia e em outros locais.

8) — Não se pense que apenas o mar é destino olhado pelos cientistas para o CO2— muita da pesquisa centra-se na procura de formações geológicas terrestres que possam acolher, espera-se que por muitos séculos, os gases que não queremos ver na atmosfera.)

9) — Prometedora é a ideia de produção de energia. a partir do carbono sequestrado—consiste afinal na injecção do carbono em formações de leito de carvão. Segundo os técnicos, nesse ambiente o CO2 poderia ser absorvido preferencialmente, libertando o metano aderido ao carvão. Decorrem pesquisas inda em estado inicial.
A viabilidade económica acabará por definir o destino destes esforços. A transformação do CO2 em energia, através de processamento químico e outros, é uma das promessas bonitas com um custo, pelo menos agora, tão elevado que de pouco adianta lembrar que é uma possibilidade teórica e técnica!
BG

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