quarta-feira, junho 24, 2009

ESCOLAS CONTRA AS ÁRVORES?

Relatei aos meus leitores, aqui há uns meses, o drama das árvores da Escola Aurélia de Sousa, no Porto, sacrificadas no altar da «modernização.» O desgosto foi ainda maior para o cronista, já que tudo se passou à porta de casa. Ver cair árvores altas e frondosas, algumas com mais de 80 anos de vida, mas saudáveis, que emprestavam vida e cor à Escola mas muito para além dos seus muros— foi duro. E extraordinárias foram as explicações fornecidas pelos responsáveis da Parque Escolar SA, a empresa que o Ministério da Educação encarrega de «melhorar» os recintos das escolas. Que o projecto era assim e implicava que, por falta de espaço, fossem imoladas as árvores. Julgava eu que, pura lógica, se assim sucedia o erro só podia estar no projecto— de facto não se pode mesmo meter o Rossio na rua da Betesga…mas não, se a culpa é do projecto, são as árvores as condenadas, executadas sumariamente sem apelo nem agravo. Visto do alto em fotografia aérea— coisas que a moderna era de comunicação permite facilmente— o cenário pós-arboricídio em massa é desolador. Claramente se vê que a desarborização não afectou somente a Escola, foi toda a cidade que perdeu beleza e saúde.

Agora dizem-me que é a Escola Secundária Filipa de Vilhena a próxima a ser alvo de uma tal «limpeza arbórea». Motivos: os mesmos. Entidade «responsável»? A de sempre. Uma tristeza que se repete?
E dezenas de grandes árvores que bordejam a escola terão já o destino traçado— sem que à comunidade tenham sido apresentadas explicações, sem uma justificação que faça sentido e possa ser discutida.
Pensava o cronista que a diminuição evidente da população escolar permitiria soluções menos «concentradas» no que toca a equipamentos desportivos e outros. Sonhava o cronista com a acção de projectistas que vissem para além da vontade avulsa de governantes que querem instalar edificações e equipamentos em locais que a isso não se prestam, por exíguos. Subsistia a esperança de o coberto vegetal, as árvores que são apresentadas aos alunos como valores a defender, fossem ao menos consideradas quando se trata de planear e de desenhar com equilíbrio e criatividade.
O Porto é uma cidade pouco arborizada, carente de verde e de elementos naturais que contrariem a crescente betonização que desumaniza. Em nome de melhoramentos cuja valia se não contesta mas que podiam e deviam ser pensados em outros lugares (porventura para utilização em comum pelas várias escolas, por exemplo) aplicam-se sucessivas e drásticas machadadas na arborização que os muros das escolas albergaram e defenderam durante décadas.
Espero que as minhas informações estejam erradas --e possa o cronista ser asperamente desmentido. Talvez afinal a Escola Filipa de Vilhena não se queira ver sem as suas árvores, talvez seja possível olhar mais largo e mais fundo e ultrapassar as urgências construtivistas da tutela. E nem se venha com o argumento das árvores e arbustos que serão plantados a seguir ao morticínio; como se fosse indiferente uma espera de dezenas de anos até que algo de comparável ao que existe, possa crescer…e aparecer!
Caso contrário, um novo crime ecológico deixará a cidade mais pobre e uma Escola mais estéril e vazia. Vazia de coerência, de projecto, de relação entre a vida e o que se ensina aos jovens, educação ambiental sem conteúdo, palavras sem exemplo, amor à Natureza sem verdade.
Vamos deixar que isso aconteça?
Bernardino Guimarães
Foto de Raízes.e.Asas
(Publicado ontem 23/6/09 no Jornal de Notícias.)

1 comentário:

  1. "... haverá 126 árvores, em vez das 139 iniciais." www.campoaberto.pt

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