
Estes ensaios, quer os realizados pelos EUA quer pela então URSS, ou ainda pela França, haveriam de marcar a agenda e a vida do Greenpeace durante muitos anos.
A 15 de Setembro de 1971, ás quatro da tarde, um pequeno barco, o Phiylis Cormack, velho arrastão da pesca do bacalhau adquirido pelos activistas, zarpou de um porto canadiano e foi o primeiro instrumento de uma «viagem contra a bomba».
Uma pequena tripulação rebaptizou o barco precário: Greenpeace era agora o seu nome. A ideia era ir ao encontro de um dos locais onde os EUA faziam explodir bombas atómicas em testes— as ilhas de Amchitka, nas Aleutas. A viagem não foi um grande sucesso, mas o enorme impacte mediático forneceu a chave de muitas novas odisseias náuticas— e o Greenpeace nascia como organização, marcado pelo mar e pelos barcos e pela sábia utilização da comunicação social para chamar a atenção para as suas causas.
O Greenpeace tem hoje uns 3 milhões de aderentes em todo o mundo, uma estrutura profissional operativa e delegações autónomas, mas coordenadas, em pelo menos 42 países. Tem sido designado por «multinacional da defesa do ambiente» e, se as suas acções espectaculares motivam simpatia e apoio, a verdade é que igualmente há quem não goste e desconfie de tanto aparato mediático. Concerteza, trata-se de uma organização única no seu género, e o seu crescimento vertiginoso criou problemas de organização e de financiamento, assim como de imagem, que aliás serviram de base a uma reforma da estrutura nos últimos anos. Entre imperfeições e vitórias assinaláveis, entre lutas que enfrentaram os poderes mais temidos da Terra e suspeitas que afectaram certos aspectos do funcionamento da Greenpeace internacional, em que pilares assenta esta ONG diferente e global?

Na composição original da doutrina Greenpeace, mesclaram-se elementos diversos, dos movimentos pacifistas aos princípios conservacionistas, de uma certa marca «hippie» à difusa inspiração dos grupos «quakers» americanos.
Entre os fundadores destacam-se Robert (Bob) Hunter, já falecido, e Patrick Moore, que viria a abandonar a organização em 1986.
Alguns destes pioneiros, foram inspirados por uma velha lenda índia que profetizava a emergência dos «guerreiros do Arco-Íris», cuja missão seria salvar um mundo de mares enegrecidos, de rios envenenados, onde a Natureza morre às mãos da ganância humana.
A sua preocupação: a Terra. Convém não esquecer que, quando os activistas escalam o Empire State Bulding para proclamar o perigo das alterações climáticas, ou quando um outro, vestido de urso polar, é detido pela polícia em Washington, em frente ao Departamento de Defesa, chamando a atenção para o derretimento do Árctico, esses temas são falados e discutidos à escala global.
A Greenpeace também se pode gabar de ter tido parte em vitórias, que foram vitórias da Humanidade: os testes nucleares foram abolidos, a caça à baleia teve uma moratória, a Antárctida foi protegida, em acordo global, da mineração e outra ameaças, a UE proibiu a importação de peles de morsa e de outros animais em perigo, fizeram-se leis contra o despejo de detritos tóxicos e radioactivos nos mares. Sem dúvida, tal não se deveu apenas ás iniciativas dos «guerreiros do arco-íris», mas a contribuição destes não deve ser menosprezada.

David contra Golias? A vida da Greenpeace não mais foi a mesma, quando, em protesto contra os ensaios nucleares franceses no atol de Muroroa, em 1985, os ambientalistas viram o seu barco, o Raibow Warrior, na altura em águas neo-zelandesas, ser sabotado por uma bomba. Da explosão resultou a morte do fotógrafo e activista português Fernando Pereira e ferimentos em outros membros da tripulação. Meses mais tarde, foi descoberta a conspiração, concretizada pelos serviços secretos franceses, cumprindo ordens do mais alto nível do poder em Paris. Se o escândalo se saldou pela demissão do ministro da Defesa de França, e por uma crise política aguda, também a Greenpeace mudou, tirando ilações do trauma e do luto. Os poderes obscuros vendem cara a pele!

Com erros e faltas, como é próprio de todas as realizações humanas! Mas, mesmo quando delas discordamos, não é difícil conceder que as acções da Greenpeace contribuem, à sua maneira, para um mundo melhor.
Bernardino Guimarães
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