quinta-feira, junho 11, 2009

HUMBOLDT

O progresso das ciências naturais deve muito a Alexander von Humboldt. O seu nome não foi esquecido. Mundialmente famoso ainda durante a sua longa vida, perpetuou-se no nome de rios, de espécies de aves e de plantas, de cadeias montanhosas e até de uma corrente marítima. Consultar um manual de botânica ou um mapa-mundo é provavelmente encontrar, diversas vezes, o nome de Humboldt, designando partes do mundo natural e lembrando à posteridade este vulto bem singular.
Este naturalista alemão, explorador e filósofo multifacetado, nasceu em Berlim, corria o ano de 1769. Proveniente de uma família da nobreza prussiana, irmão do que veio a ser um famoso linguista e político, Humboldt desde cedo mostrou amor pelas coisas da Natureza. Estudou na Universidade de Gottingen e depois, na Escola de Minas de Friburgo. O seu talento natural e a sua capacidade de trabalho certamente impressionaram os seus mestres— mas haveriam de ser as suas viagens o factor mais importante da sua vida— como mais tarde o foram também para Darwin— para o seu crescimento como cientista e para a fama mundial que granjeou.
Convém notar que a nossa época de super-especialização e de informação instantânea dificilmente enquadraria aquilo que foi a extraordinária polivalência de Humboldt; geógrafo, filósofo, historiador, geólogo, mineralogista, botânico, zoólogo, vulcanólogo e humanista, tudo isto foi e em todos estes campos deixou marca assinalável, com particular relevância para a Geografia, a Geologia, a Climatologia e a Oceanografia. A sua época, desperta para a ciência e ávida de saber, ignorava ainda os compartimentos estanques que hoje estabelecemos entre os vários ramos do saber. Mas isso são outros contos! O seu gosto pelas viagens, a tentação do novo mundo ainda em grande parte desconhecido e pouco explorado cientificamente, começou de muito novo. A primeira expedição científica, aos vinte anos, ficou-se pela velha Europa. Percorreu o curso do Reno, a Alemanha e os Países Baixos, depois a Inglaterra. Publicou depois a obra «Observações sobre o basalto do Reno.»
Mas foi a sua fantástica expedição à América que o celebrizou—e a mais decisiva para si. Desde 1799 a 1804, acompanhado pelo botânico francês Bonpland, percorreu a Venezuela, viajando pelos rios amazonas, Orinoco, Atabapo e Negro, escalou montanhas, viajou por Cuba, Colômbia, Equador, Peru, México e Estados Unidos onde fez análises geológicas das costas do Pacífico. Curiosamente, não penetrou no Brasil porque o governo português, por razões políticas, impediu a sua entrada no imenso território brasileiro.
Sempre recolhendo amostras e espécimes— só de plantas levou consigo mais de 60 000, fora as amostras geológicas e animais. Este espólio riquíssimo levou Humboldt a vida inteira a estudá-lo. Percorreu cerca de 65 000 km!
Não foi insensível aos dramas humanos que presenciou no seu longo périplo pelo Novo Mundo. Indignou-se com o flagelo da escravatura e interessou-se pelas culturas indígenas e pelos estudos antropológicos e etnográficos.
Já célebre, regressou fixando-se em Paris, depois de novo em Berlim, preparando a que foi uma das suas obras mais colossais— a «Viagem às Regiões Equinociais do Novo Continente», em 30 volumes, publicado em 1834. Humboldt desenvolveu, simultânea mas separadamente com o francês conde de Buffon, o conceito de meio ambiente geográfico, postulando que as características da fauna e flora estão intimamente ligadas à latitude, tipo de relevo e condições climatéricas existentes. Sempre o acompanhou a ideia de que existe uma relação profunda entre todos os fenómenos da Natureza, intuição que hoje sabemos correcta e de algum modo foi precursora da Ecologia moderna.
Em 1829 empreendeu ainda uma extensa e movimentada expedição naturalística à Ásia Central.
O seu legado é imenso. Este aventureiro com causa espantou a sua época pelo arrojo e pela dedicação à causa do conhecimento. Deixou imensas obras e escritos diversos. Morreu em Berlim no ano de 1859, com 90 anos de idade.
Nas suas viagens e na publicação das suas obras comprometeu boa parte da fortuna pessoal que havia herdado; mas ganhou, não apenas a fama, que não lhe agradava tanto assim, mas um lugar na lista dos que mais contribuíram para o conhecimento da Terra, do que hoje chamamos biodiversidade e de quase todos os capítulos das ciências naturais.
Bernardino Guimarães

1 comentário:

  1. "mas ganhou, não apenas a fama, que não lhe agradava tanto assim, mas um lugar na lista dos que mais contribuíram para o conhecimento da Terra, do que hoje chamamos biodiversidade e de quase todos os capítulos das ciências naturais."
    Estas são as características dos GRANDES HOMENS.

    ResponderEliminar