terça-feira, junho 09, 2009

MOMENTOS FELIZES E ILUSÕES

1) Um cronista ambiental também pode ter os seus momentos felizes, merecedores de espaço na crónica, com mais ou menos caracteres mas fugindo, alegremente, à regra da denúncia de atentados contra a Natureza, de entorses no que devia ser a nossa relação com o Ambiente. Momentos felizes emprestados por notícia de factos que parecem ir na boa direcção e que me permitem desmentir, por instantes e parágrafos, suspeitas de pessimismo «crónico» que alguns leitores possam acalentar. Vamos lá então às boas notícias:
A reabilitação das ribeiras do Porto talvez possa avançar, já que um projecto com essa finalidade será candidato às verbas do célebre QREN. A Câmara, em colaboração com Águas do Porto e Região Hidrológica do Norte, prepara a «operação integrada» que visará recuperar as ribeiras, aproveitando todo o seu potencial ecológico, com impacte no lazer e na qualidade de vida dos portuenses. O projecto dá pelo nome de «Gestão Activa das Ribeiras do Porto, 1.a fase— Rotas da Granja à Asprela», objectivando «a protecção do recurso Água, valorização da biodiversidade, segurança das pessoas e bens e salvaguarda da saúde pública, na perspectiva da estratégia para o uso eficiente da água.». Parece bem. Resta saber a sorte deste projecto, já que é velha a intenção de salvar, limpar e desentubar as ribeiras que o Porto tem (e esconde).
Também os municípios de Valongo, Gondomar, Paços de Ferreira e Paredes desenvolvem um projecto, desta vez para limpar o rio Ferreira. A acção «Corrente Rio Ferreira» abrange a totalidade do leito do rio e envolve, além das autarquias, muitas outras entidades públicas e privadas. Veremos o que se segue, que isto de protocolos e parcerias está o inferno cheio… há que dar o benefício da dúvida.
De outros se poderia falar, respigando a informação recente: criação de espaços verdes nas margens do Leça na Maia. Algum esforço, ainda incipiente é certo, para favorecer a eficiência energética na iluminação pública, certos projectos— que deveriam ser generalizados— de instalação de energias renováveis em equipamentos públicos…a verdade é que se encontra do que dizer bem! Para compensar a continuação do licenciamento de centros comerciais e «grandes superfícies» que induzem o uso massivo do automóvel e condenam os comércios locais; a tendência, agora confirmada uma vez mais, para o aumento da produção de lixo doméstico e para a estagnação, em níveis baixos, das percentagens de resíduos reciclados.
2) A campanha de «informação» da EDP sobre barragens e sobre a conservação da natureza é um primor de profissionalismo e eficácia. Revela também que sobejam para aqueles lados os recursos financeiros que a crise nega ao comum das empresas. E apresenta aquela que deve ser já a mais hipócrita das ofensivas de propaganda do tempo recente.
Antecipando-se à contestação certa, a EDP quase nos convence que as barragens que construirá— por exemplo o Baixo Sabor, entre outras— são indispensáveis à fauna e flora daqueles locais. Mas a Natureza, ali, não sabe nadar. As espécies que se podem contemplar nos anúncios da EDP, voando felizes, serão aquelas mais afectadas pela construção das barragens. As paisagens que constam nos painéis e anúncios de página…desaparecerão para todo o sempre. A campanha de informação… desinforma, vende ilusões, pura realidade virtual. Para defender a construção de barragens, usem-se outros argumentos, que os haverá talvez. Mas não nos encham os olhos com miragens, nem usem milhões para vender uma bem urdida ilusão, uma milionária mentira!
Bernardino Guimarães
Foto de Raízes.e.Asas
(Publicado no JN hoje, 9/5/09)

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