E a verdade é que sobra cada vez menos espaço para a Natureza. Como se sabe, o território é um bem finito, esgotável. A densificação de infra-estruturas, as rodovias mais as fatais rotundas, as áreas onde se instalam grandes superfícies comerciais e seus acessos, o estacionamento, a urbanização dispersa, os «parques industriais», a betonização das margens dos rios e do litoral, deixam pouco espaço a coisas essenciais. Tais como zonas de infiltração para as águas da chuva, que evitam inundações e cheias, a simples existência de vegetação para produzir oxigénio e reter carbono, solo arável para que tenhamos alimentos, biodiversidade, paisagem equilibrada. Nas grandes áreas metropolitanas, como a do Porto, a percentagem de solo impermeabilizado cresce paulatinamente. Quem faz as contas? Quem valoriza o que se perde, mesmo supondo que alguma coisa se ganha?
A crise alimentar mundial (consequência de muitos erros, como a especulação bolsista com bens essenciais à vida e a ilusão trágica dos agro-combustíveis) trouxe consigo a confirmação: é insensato abandonarmos a agricultura urbana e suburbana, até como factor de qualidade e de segurança no abastecimento.
Precisamos de sistemas naturais que funcionem bem, o que acontecerá se não os amputarmos constantemente – como é habitual com as desanexações de Reserva Ecológica e Agrícola, que alguns autarcas consideram um «entrave»! Para assegurar essas «pequenas» coisas tão menosprezadas pelos nossos políticos e tecnocratas: ar puro, água limpa, paisagem diversificada e atractiva, solos produtivos, diversidade de vida animal e vegetal, prevenção de catástrofes naturais, espaço para lazer e saúde das populações. Por isso também, necessitamos de áreas naturais, de todas as que restam, ordenando-as em termos de rede ecológica fundamental de suporte ás grandes zonas urbanas. Viu-se com agrado a Junta Metropolitana abrir concurso de ideias para a «identidade gráfica corporativa da futura Rede de Parques Naturais da Grande Área Metropolitana do Porto». Bela iniciativa! Importa é que não venha a haver logótipo… de uma realidade virtual. Porque não sabemos: quando vão ser realidade esses parques naturais? As resistências de décadas, por parte de autarcas e outros agentes políticos, estão ultrapassadas? Que método, que fundamentação, que calendarização de acções para uma medida tão desesperadamente necessária?
Teremos salvaguardadas e recuperadas a Serra de Sta Justa, Pias e Castiçal, o Estuário do Douro, a Reserva Ornitológica do Mindelo, a Barrinha de Esmoriz, os carvalhais da Aboboreira, a Serra da Freita, tantos outros refúgios hoje ameaçados? Seria uma excelente notícia. Mas fiquemos atentos, que quando a esmola é grande…
A verdade é que a opinião pública urbana ignora, em boa parte, estes problemas. E talvez uma razão para isso seja o facto de se estar a perder o contacto com a Natureza. Numa vida asséptica, onde se esconde, necessariamente, aquilo que são as consequências da nossa atitude quotidiana (resíduos, o que resulta do consumo energético em poluição) e com sérios impedimentos à fruição das belezas naturais. Mesmo que muitos sintam a falta de alguma descompressão da vida urbana…faltam alternativas. Ninguém ama o que não conhece. E saber da Natureza será meio caminho andado para a defender, feita a prova daquilo que nos andam a roubar…em nome de ilusões de «crescimento» e bem-estar que o tempo se tem encarregado de desmentir.
Começa aí a verdadeira «Educação Ambiental»!
Bernardino Guimarães
Fotos de Raízes.e.Asas
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