segunda-feira, junho 15, 2009

ISTO VAI AQUECER!

Fazia frio…uma noite gelada, lua linda de Novembro, firmamento brilhante, inspirador. Uma bela noite para falar de aquecimento…global, assim pensei eu há coisa de poucos dias, ao dirigir-me para uma sessão— promovida por uma Junta de Freguesia— onde o tema foi a mudança climática, a inexorável transformação das condições de clima a que estamos habituados, com consequências para as quais não estamos preparados.
Na ocasião, quase saudei o regresso do frio, neste mês que foi ameno e de fogos florestais, mais que em Agosto. E lembrei-me de coisas recentes, importantes.
Como falar de Ambiente e de clima sem tocar a Energia? E como abordar o mundo da Energia sem encontrar a geopolítica? Diplomacia do petróleo já a temos, consolidou-se nas chancelarias, obscureceu o brilho fátuo da diplomacia dos princípios e das ideias civilizadoras. Proíbem-se idealismos. Uma ditadura com dinheiro ou petróleo…é uma democracia! Bush e Chavez saíram do mesmo molde, da mesma encenação política que é o «jogo mundial» do petróleo, em versões diversas e só aparentemente contraditórias. Esquecem-se pruridos ideológicos em nome de contratos que assegurem combustível. Médio Oriente, América Latina, a economia carbónica soma e segue. Gasodutos russos garantem o novo czar Putin e os tiranetes da Ásia Central.
A Agência Internacional de Energia prenuncia uma alta extraordinária da procura de petróleo, gás natural e carvão. China e Índia chegam ao clube dos ricos e ocupam o lugar central à mesa do banquete.
Enquanto isto, as Nações Unidas avisam que o Protocolo de Quioto, feito para reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros gases, é insuficiente…e não está a ser cumprido, mesmo assim. Na Europa faz-se alguma coisa, lidera-se o processo que irá ter o seu teste decisivo por estes dias em Bali, com Conferência mundial para um novo protocolo. Mas o que verdadeiramente interessa é quem irá ser presidente dos EUA— e para fazer o quê.
Portugal não cumpre. Emite já hoje mais 43% de gases de efeito de estufa do que em 1990— tinha sido autorizado a aumentar 27% até 2012. O ministro Correia boceja e diz, enfastiado com a impertinência dos que perguntam, que tudo está bem.
Recordo os edifícios públicos que visitei, linhas modernas, vidro e aço estilizado, assinatura de arquitectos famosos. Mas que são monumentos ao desperdício de energia. Fornos no Verão, congeladores no Inverno. Tudo se resolve aí…com ar condicionado!
E a iluminação pública que projecta luz para o espaço— e pouca para o pavimento, modelo de ineficiência, por vezes com candeeiros de rua acesos às dez da manhã!
Talvez a geopolítica não seja tudo. A melhor energia é a que não se gasta. Um simples gesto, uma lâmpada eficiente, e estaremos a ajudar. Uma camisola vestida em casa pode evitar subirmos tanto o aquecimento central. Ou deixarmos o automóvel na garagem se apenas vamos ao café da esquina. E então uma palavra ao vereador ou ao deputado, só para dizer que nos importamos, que nos importa que eles ignorem o que é importante…será um belo gesto de democracia!
As cidades, as empresas, as escolas, as famílias podem realizar muito. Para sairmos desta curva apertada. Para termos eficiência energética e fontes renováveis. Para virarmos esta página fóssil da História humana e transformarmos os factores que a rotina e os interesses instalados querem fazer crer que não podem mudar.
Entrei na tal reunião revigorado pelo luar de gelo. Sabia exactamente o que dizer. «Um problema global com soluções locais» como mote. Sala composta, pessoas interessadas, autarcas esclarecidos.
Fez-me bem essa noite fresca de Novembro.
Bernardino Guimarães
Foto de Raízes.e.Asas
(Esta crónica foi publicada no JN em Novembro de 2007. Fica para a memória (futura) do Peregrino.

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