
Na ocasião, quase saudei o regresso do frio, neste mês que foi ameno e de fogos florestais, mais que em Agosto. E lembrei-me de coisas recentes, importantes.
Como falar de Ambiente e de clima sem tocar a Energia? E como abordar o mundo da Energia sem encontrar a geopolítica? Diplomacia do petróleo já a temos, consolidou-se nas chancelarias, obscureceu o brilho fátuo da diplomacia dos princípios e das ideias civilizadoras. Proíbem-se idealismos. Uma ditadura com dinheiro ou petróleo…é uma democracia! Bush e Chavez saíram do mesmo molde, da mesma encenação política que é o «jogo mundial» do petróleo, em versões diversas e só aparentemente contraditórias. Esquecem-se pruridos ideológicos em nome de contratos que assegurem combustível. Médio Oriente, América Latina, a economia carbónica soma e segue. Gasodutos russos garantem o novo czar Putin e os tiranetes da Ásia Central.
A Agência Internacional de Energia prenuncia uma alta extraordinária da procura de petróleo, gás natural e carvão. China e Índia chegam ao clube dos ricos e ocupam o lugar central à mesa do banquete.
Enquanto isto, as Nações Unidas avisam que o Protocolo de Quioto, feito para reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros gases, é insuficiente…e não está a ser cumprido, mesmo assim. Na Europa faz-se alguma coisa, lidera-se o processo que irá ter o seu teste decisivo por estes dias em Bali, com Conferência mundial para um novo protocolo. Mas o que verdadeiramente interessa é quem irá ser presidente dos EUA— e para fazer o quê.
Portugal não cumpre. Emite já hoje mais 43% de gases de efeito de estufa do que em 1990— tinha sido autorizado a aumentar 27% até 2012. O ministro Correia boceja e diz, enfastiado com a impertinência dos que perguntam, que tudo está bem.
Recordo os edifícios públicos que visitei, linhas modernas, vidro e aço estilizado, assinatura de arquitectos famosos. Mas que são monumentos ao desperdício de energia. Fornos no Verão, congeladores no Inverno. Tudo se resolve aí…com ar condicionado!
E a iluminação pública que projecta luz para o espaço— e pouca para o pavimento, modelo de ineficiência, por vezes com candeeiros de rua acesos às dez da manhã!
Talvez a geopolítica não seja tudo. A melhor energia é a que não se gasta. Um simples gesto, uma lâmpada eficiente, e estaremos a ajudar. Uma camisola vestida em casa pode evitar subirmos tanto o aquecimento central. Ou deixarmos o automóvel na garagem se apenas vamos ao café da esquina. E então uma palavra ao vereador ou ao deputado, só para dizer que nos importamos, que nos importa que eles ignorem o que é importante…será um belo gesto de democracia!
As cidades, as empresas, as escolas, as famílias podem realizar muito. Para sairmos desta curva apertada. Para termos eficiência energética e fontes renováveis. Para virarmos esta página fóssil da História humana e transformarmos os factores que a rotina e os interesses instalados querem fazer crer que não podem mudar.
Entrei na tal reunião revigorado pelo luar de gelo. Sabia exactamente o que dizer. «Um problema global com soluções locais» como mote. Sala composta, pessoas interessadas, autarcas esclarecidos.
Fez-me bem essa noite fresca de Novembro.
Bernardino Guimarães
Foto de Raízes.e.Asas
(Esta crónica foi publicada no JN em Novembro de 2007. Fica para a memória (futura) do Peregrino.
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