terça-feira, agosto 18, 2009

DARWIN

Este ano comemora-se o bicentenário do nascimento de Charles Darwin, talvez o naturalista mais marcante de todos os tempos. Concerteza o mais polémico, não talvez por sua vontade, mas porque as conclusões dos seus trabalhos científicos acabaram por provocar uma verdadeira revolução— cujos ecos ainda se fazem sentir.
Por um acaso, comemora-se também, neste ano da graça de 2009, os 150 anos da publicação daquela que veio a ser a sua obra mais célebre e controversa, o livro «a Origem das Espécies Através da Selecção Natural», que em Novembro de 1859 foi dada à estampa, culminando muitos anos de estudo e observação dos fenómenos naturais e originando forte escândalo. Estavam postas em causa ideias estabelecidas desde sempre— e mesmo no mundo científico a aceitação das teses de Darwin esteve longe de ser pacífica.
Darwin nasceu a 12 de Fevereiro de 1809, na cidade inglesa de Sherewsbury. O seu nome evoca, para muitos, a ideia desagradável de o Homem ser «descendente do macaco» (coisa que Darwin nunca afirmou!) --ou pelo menos parente dos grandes símios— e foi essa imagem caricatural que os seus adversários usaram contra si. Acusado de rebaixar a humanidade, ao reduzi-la a uma descendência pouco elevada, o naturalista teve de enfrentar diversas campanhas de opinião pondo em causa as suas propostas. Existia, como dogma irrefutável, a ideia de que todas as criaturas tinham sido criadas de uma vez só, ou em levas sucessivas, e a noção de que as espécies vivas podiam descender de outras formas já extintas, transformando-se gradualmente em outras formas diversas, parecia definitivamente herética.
Mas, se de facto Darwin sustentava a chamada Teoria da Evolução— e por tal ficou conhecido até hoje— não foi esse o fulcro da sua proposta nem sequer essa ideia era original. A evolução das espécies era, nessa época aceite por muitos como um facto, não como teoria, observável através de dados palentológicos e outros.
O naturalista inglês defendeu outra ideia, que veio dar um sentido mais preciso à Evolução: a teoria da selecção natural. Assim, determinadas características seriam transmitidas, de geração em geração, dentro da mesma espécie, sempre que essa característica representasse uma vantagem adaptativa no meio natural no qual a espécie se integrava. Se uma dada característica— o tamanho do bico de uma ave, por exemplo— fosse favorável ao tipo de alimentação viável num certo meio, ou respondesse a alterações ambientais ocorridas, tal alteração transmitia-se, porque os indivíduos que a possuíam podiam sobreviver e reproduzir-se, ao contrário de outros da sua espécie, que desapareciam sem ou com menos descendência. A Evolução de todas as espécies desenvolvia-se em resposta ao meio e às necessidades de sobrevivência e condicionadas pelo meio. A selecção natural dos mais aptos moldava, segundo Darwin, a evolução de uma espécie— e de todas, fossem animais ou vegetais. Entre 1831 e 1836, decorreu a viagem do jovem Charles Darwin no navio «Beagle», que durou 5 anos. Como naturalista de bordo, pôde percorrer regiões exóticas e recolher espécimes, um trabalho de registo minucioso que o terá levado a formular e mis tarde amadurecer as suas ideias definitivas. Navegando por mares e terras não cartografadas, foi grande o seu maravilhamento pela esplêndida diversidade do mundo vivo. A missão do «Beagle» era cartografar os portos e linhas costeiras da América do Sul. As descrições de Darwin da Mata Atlântica brasileira, ou das pampas argentinas, são muito elucidativas sobre o que aqueles novos horizontes ofereciam em conhecimento, beleza e reflexão. As ilhas Galápagos, no Pacífico, ficaram para sempre associadas à sua teoria evolutiva. Diz-se que cada das ilhas albergava diversas espécies de tentilhões, cada uma delas munida com um tipo de bico que perfeitamente se adaptava às condições do meio ambiente. A recolha e comparação desses espécimes, que Darwin levou para Inglaterra, terão sido determinantes nas suas pesquisas— tanto como a descoberta de fósseis que representavam formas antigas de espécies actuais, modificadas pelo tempo e pelas contingências da selecção natural.
As modernas conquistas da genética vieram confirmar, em grande parte, ( mas não toda e alargando as suas perspectivas), a pertinência das suas teses—e da sua grande intuição fundamental.
Mas, polémica e convicções à parte, --porque o grande debate continua-- Darwin permanecerá como um dos homens que mais contribuiu para o conhecimento da Natureza, e do nosso próprio lugar nela.
Bernardino Guimarães

(Recomenda-se vivamente uma visita à mostra comemorativa do bicentenário de Darwin, patente no Parque Biológico de Gaia, em Avintes.Para quem queira seguir, sem concessões ao simplismo e à retórica vazia, a discussão sobre Evolução e em particular no que se refere à polémica entre Criacionismo e Evolução, entre outras que analisam o lugar do Homem na biosfera na perspectiva científica e religiosa, o Peregrino recomenda ainda, por exemplo, o livro «Evolução a duas vozes» da Editorial Bertrand, com textos da bióloga Teresa Avelar e do padre e teólogo Joaquim Carreira das Neves.)

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