terça-feira, agosto 04, 2009

ESPAÇO E TEMPO

O espaço— como o tempo— é um bem escasso. Nas cidades que são a invenção humana de um habitat favorável e feito à medida das necessidades humanas— temos muitas vezes essa sensação. Como nos falta tempo, falta-nos espaço. Escassez de dois factores essenciais, aliás relacionados como se sabe— sem ser preciso revisitar a Teoria da Relatividade.
Se o espaço público, bem comum, mingua e rareia, então lógico será tratá-lo bem, aproveitá-lo com racionalidade. Reduzi-lo ainda mais (ao espaço público disponível) com usos que são privados, porque aproveitam só a uns poucos, constitui um erro que deveria ser evitado.
Uma cidade, uma aglomeração urbana, por ser moderna, toda devotada aos serviços e produtora de «informação» e «conhecimento», nem por isso deixa de necessitar daquelas coisas banais, comezinhas, que são precisas todos os dias: alimentação, água, atmosfera respirável e, vá lá, alguma beleza e descanso para os olhos e para a alma! O espaço excessivo, opressivo, quase totalitário na sua expressão de domínio, que dedicamos aos automóveis, ocupando a urbe com o seu asfalto, os seus parques de estacionamento e com o uso das próprias artérias urbanas, parados ou em trânsito, esse espaço falta para os outros fins. E com essa invasão, hoje consolidada, lá se vai o ar puro, o silêncio, a simples possibilidade de utilizarmos essa forma arcaica de mobilidade…que é o uso dos nossos pés! Se ainda por cima, relegamos para o passado as formas tradicionais de comércio e incentivamos os «grandes» e «mega» templos do consumo, as grandes e mega superfícies que cada mês vemos por toda a parte inauguradas com pompa e circunstância (e patrocínio político ostensivo) então ainda pior: mais se induz a utilização do automóvel, mais se concentram as actividades num só local, mais se despovoam os centros urbanos consolidados que vêem o lazer e o consumo deslocar-se para esses imensos centros comerciais e hipermercados, espalhados na indistinta «Subúrbia» --e que passam, para todos os efeitos, a ser os novos «centros urbanos» de facto.
Tem sido essa e continua a ser a opção favorecida pelos nossos autarcas e governantes centrais. Raras vezes é posta em causa essa preferência. É isso que faz de Portugal o país que, além de possuir mais auto-estradas (e mais auto-estradas vazias!) também ocupa lugar cimeiro no número e profusão de «grandes superfícies comerciais» e afins. O que traz consequências no uso do espaço urbano, no aumento da dependência do automóvel e incremente um tipo de consumo orientado pelas grandes distribuições, com a oferta de produtos de origens longínquas, com os inerentes custos energéticos e impacte ambiental.
As pessoas querem assim ou são de algum modo empurradas para este modelo insustentável?
Há alternativas melhores para todos?
Será preciso, e é urgente, procurar as respostas.
Para esta crónica falta também o espaço e escasseia o tempo. Bem escasso, realmente, a precisar de gestão cuidada!
Bernardino Guimarães
(Crónica na RDP-Antena 1, de 16/7/09)

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