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Lembro-me da emissão, preto e branco, da TV; das imagens quase irreais; da tensão da chegada daqueles embaixadores da humanidade, os passos lentíssimos de Armstrong e seus companheiros no solo lunar, que eram mais voo que caminhada. E recordo-me que, tirando os olhos da pantalha luminosa, espreitei a Lua que se vê da janela, de todas as janelas— e era igual a sempre, branca e magnética, muda e branca, mas andavam homens por lá, aos pulos! Depois aprendi os nomes que tinham sido atribuídos, precária geografia, aos lugares da Lua: o Mar da Tranquilidade ficou-me na memória, afinal uma planura rochosa, esburacada de meteoritos. E a palavra «alunar» há-de sempre permanecer entre as minhas favoritas.
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As longas e difíceis jornadas dos astronautas ajudaram à recolocação do homem e da sua casa ancestral no seu lugar próprio, no mesmo momento em que pareciam abrir-se as portas para outros cenários e outras distâncias. A ciência avançou— esperemos que a consciência também. Surgiram, como sempre, novos símbolos, novos mitos.
Parece que lá para 2020 voltaremos à Lua com naves tripuladas, coisa que já não acontece desde 1972. Entretanto, sondas viajam milhões de quilómetros até aos confins da galáxia ou abordam Marte, nele pousando e indagando, ou ainda enviam-nos imagens de cenários tão extraordinários como o das poeiras e outros detritos cósmicos que formam os anéis de Saturno.
Mas nunca compreenderemos o espaço infindo se não descobrirmos e conhecermos a Terra e— mais do que isso— aquilo que é preciso encontrar e fazer para que na Terra continuemos a ter a nossa sede e os nossos pés, mesmo se podemos viajar para longe com as nossas máquinas, a imaginação ou o corpo de humanos pioneiros.
A aventura precisa de raízes. O avanço da técnica tem de ser acompanhado do que alguém chamou a «esfera da consciência» universal e global--mas individual antes de tudo. Aqui entra e Ecologia e a vontade de gerir bem a nossa terráquea herança, tão ameaçada.
E só a partir daí, e por isso mesmo, seremos integrantes da grandeza e dos enigmas do Universo.
Bernardino Guimarães
(Crónica na RDP-Antena1, em 23/7/09)
" O avanço da técnica tem de ser acompanhado do que alguém chamou a «esfera da consciência» universal e global--mas individual antes de tudo. Aqui entra e Ecologia e a vontade de gerir bem a nossa terráquea herança, tão ameaçada."
ResponderEliminarBelissimo tudo ...
Caro Peregrino...
ResponderEliminarEstava eu voltada aos tempos dos descobrimentos em minhas pesquisas e encontrei uma crônica bem interressante a qual cai super bem neste momento e repasso pra vc e seus seguidores:
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De: Helena Costa - 9 Dezembro 2008
Era uma vez um povo de marinheiros e de guerreiros, o povo português. Levados pela procura de riqueza e de novas terras, aventuraram-se no Oceano desconhecido, em direcção ao horizonte.
Em contrapartida, a descoberta espacial. A busca pelo conhecimento, pela descoberta. A procura incansável e inatingível pelo saber absoluto.
Qual delas a mais gloriosa? Qual delas a derradeira aventura do homem?
Em nada se comparam as épocas das duas viagens. Por um lado século XV. Tempo em que o Oceano era o desconhecido, o obscuro. Tempo de crenças inimagináveis, hoje em dia. Tempo em que viajar no mar era nada mais do que provocar a morte.
Por outro, século XX – Todas as crenças mitológicas ultrapassadas, avanço tecnológico, mais condições. E, mais uma vez, alguém sonhou ir mais longe, quebrar os padrões do impossível. E eis que chegámos ao Espaço.
Apesar de tudo, na minha opinião, os Descobrimentos Marítimos são a maior aventura da humanidade. Não é possível comparar uma caravela com uma nave espacial, esperar encontrar monstros, gigantes e afins e esperar que tudo corra bem para regressar a casa rapidamente.
Mas, é certo, nada iguala a coragem, a determinação daqueles homens, tanto marinheiros como astronautas. E os feitos do passado são um exemplo para nós, actualmente. Não há limite para sonhar, não há limite para conseguir.
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
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É meu caro Peregrino... independente dos históricos, as conquistas aparentemente se perdem e suas causas não se tem muito efeito depois de algum tempo mas mesmo assim vivemos numa busca incessante de descobertas e descobrimentos na intenção de sempre responder pra nós mesmos... quem somos, onde estamos e principalmente pra onde e com quem vamos...
No final, o que conta mesmo é a garra, coragem e disposição de cada um com os propósitos de sua próprias viagem... mesmo que seja ver a lua ou ir até ela.
Mas nunca compreenderemos o espaço infindo se não descobrirmos e conhecermos a Terra e— mais do que isso— aquilo que é preciso encontrar e fazer para que na Terra continuemos a ter a nossa sede e os nossos pés, mesmo se podemos viajar para longe com as nossas máquinas, a imaginação ou o corpo de humanos pioneiros.
ResponderEliminarA aventura precisa de raízes.
Tudo necessita de raízes, fortes raízes...caso contrário desmorona-se.