terça-feira, agosto 25, 2009

MIGUEL TORGA

Miguel Torga é o nome literário de Adolfo Correia Rocha, nascido em 12 de Agosto de 1907 (celebrou-se há dois anos o centenário do seu nascimento!) na aldeia de São Martinho de Anta, em Trás-os-Montes e falecido em Coimbra em 17 de Janeiro de 1995.
A escolha do pseudónimo ilustra bem a escolha do escritor—a sua obra reflecte assumidamente a ligação à terra, às fragas do seu «Reino Maravilhoso».
É que torga é uma humilde planta rústica. Escreveu Eduardo Lourenço:
«Nas montanhas de Trás-os-Montes existe um pequeno arbusto, evocado pelo autor da «Criação do Mundo» como duro, tenaz, nodoso. Dele se fazia, no tempo da sua infância, um excelente carvão, fonte de calor e luz. A ele foi buscar o poeta o seu apelido Torga, hoje internacionalmente conhecido. Esta vontade de identificação totémica (…) com uma planta, e nela, com a Natureza no seu aspecto quase mineral, foi integrada na leitura e exegese da sua obra como sua imagem de ressonância mítica. Assim o quis o próprio autor e assim se impôs aos leitores, não como simples pseudónimo, mas como «nome» ao mesmo tempo simbólico e natural.»

A obra torguiana assombra pela sua força e amplitude: 14 livros de poemas, 14 de prosa vária— incluindo 7 de contos e 2 romances— 4 de teatro e 16 de diário. Foi poeta, contista, dramaturgo, romancista, diarista e ensaísta. O médico Adolfo Rocha exerceu a profissão atento aos problemas sociais envolventes e o cidadão empenhou-se, por vezes sofrendo consequências pesadas, no combate à ditadura que oprimia o seu país, a favor da liberdade e da democracia.
Viveu no Brasil, para onde emigrou ainda adolescente e fez parte do grupo fundador da revista Presença, com João Gaspar Simões, José Régio e Branquinho da Fonseca.

Dos seus trabalhos mais conhecidos: A Criação do Mundo (1937) Bichos (1940) Contos da Montanha (1941) Novos contos da Montanha (1944) Vindima (1945)
Entre muitos outros.
O universo torguiano é de montanhas, de fragas, de dureza, de encantamento pelas belezas terrestres. Representa, na literatura portuguesa, o contraponto da exaltação do mar, da viagem, do sonho longínquo a conquistar. Torga cravou a sua poesia na terra dura e austera e aí revelou a sua magia ancestral e um certo Portugal sempre esquecido, sempre fora das glórias imperiais de além-mar e do cosmopolitismo da grande cidade. Por isso se pode falar da energia telúrica da sua escrita e até da sua personalidade, preso a um chão maltratado onde vivem os homens e os bichos, seus dramas e alegrias, um mundo triste e exaltante e orgulhoso. Torga era trasmontano—o seu reino maravilhoso—e apreciava muito o Alentejo, onde outro tipo de grandeza e de solidão se destacava, expressa na rispidez das condições naturais e no carácter das gentes. Como diz Teresa Rita Lopes: «Vem de longe a preocupação de Torga em definir a «fisionomia» dessa «pátria telúrica» de que um dos seus primeiros livros, significativamente intitulado «Portugal» afirma: «Avivo no teu rosto o rosto que me deste/ E torno mais real o rosto que te dou» E explica-se numa outra página do seu Diário: «Estas paisagens estão de tal modo explicitadas dentro de mim, que parecem escritas no meu entendimento. Quando cuido que estou a interpretá-las, estou a ler-me.»
Pode ser oportuno terminar com a homenagem de Torga ao Gerês: (Diário vol. VII, 1955)
«Há sítios no mundo que são como certas existências humanas: tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e perfeição.
Este Gerês é um deles. Acumularam-se e harmonizaram-se tais forças e contrastes, tão variados elementos de beleza e de expressão, que o resultado lembra-me sempre uma espécie de genialidade da natureza.»
Bernardino Guimarães

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