quinta-feira, janeiro 21, 2010

AMBIENTALISTAS

São eternos desmancha-prazeres, incómodos e metediços, os ambientalistas? Muitos parecem pensar assim. A cada tomada de posição, contestando uma obra, uma decisão, uma ausência de medidas, os que defendem o ambiente arriscam a incompreensão de boa parte da opinião pública.
Num país habituado ao respeitinho situacionista, à opacidade e omnipresença do poder, com uma vida associativa débil e dependente e uma sociedade fraca face ao Estado e ao poder económico, não é de estranhar que as críticas dos «ambientalistas» sejam muitas vezes usadas contra eles próprios.
Defendem a biodiversidade, as espécies selvagens? É porque se preocupam pouco com as pessoas. Ousam contestar a obra pública onde o Estado se esmerou e esvaiu em fundos? É porque são contra o progresso.
E se os reparos se dirigem contra empreendimentos privados, pois logo se ouve dizer que, imbuída no inconsciente ecologista, está uma aversão visceral à iniciativa que gera «crescimento e emprego.»
Daí a arrumar toda a intervenção em prol do ambiente no compartimento renegado dos que conspiram para uma nova «idade das trevas», contra as delícias e comodidades contemporâneas, vai só um pequeno passo.
Assim se percebe que, apesar de um discurso de defesa do ambiente e de amor pela natureza, que ouvimos da boca dos políticos e em geral dos decisores, a denúncia dos atentados concretos e definidos, feita pelas associações ambientalistas ou por personalidades ligadas às mesmas, encontram pouco eco e quase nenhuma consequência.
Vivemos numa situação estranha e equívoca: é geral o reconhecimento dos sinais de «crise ecológica», defende-se mesmo, consensualmente, a necessidade de uma vaga «salvação do planeta» e coisas igualmente tonitruantes, mas censura-se e condena-se tudo aquilo que pretende apontar desvarios precisos, actos contra os valores naturais— porque o «progresso», já se sabe, não pode ser posto em causa.
Talvez por isso tenhamos, na estrutura do governo, um ministério do ambiente que nada pesa e nada decide no conjunto das políticas nacionais— e que se limita a estar ali, gerindo mansamente o vazio.
Estarão os ambientalistas condenados à indiferença, ou à irrelevância? É preciso dizer que já prestaram grandes serviços a Portugal. Que seria do país (e como seria o país) sem o trabalho, a voz, o empenhamento gracioso e desinteressado dos chamados «ambientalistas»? Seguramente mais feio, mais sujo, mais degradado e banalizado.
Muitas das ideias e causas ambientais, tidas como escandalosas e suspeitas há umas décadas, passaram para a «rua principal» da política e da economia— pelo menos em termos de vocabulário e de intenções.
Sem dúvida, é hoje necessário encontrar novas e melhores formas de intervenção e de sensibilização das pessoas e das instituições. Porque a voz dos que defendem o ambiente continua a ser indispensável.
Bernardino Guimarães
(Crónica na Antena 1 em 21/1/2010)

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