terça-feira, janeiro 05, 2010

ANO INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE

Percorrendo as agradáveis extensões do Parque da Cidade do Porto, um cidadão pode observar, ao longo do ano, cerca de 70 espécies de aves. Umas presentes em todas as estações, outras migradoras que por cá nidificam e partem no Outono para paragens mais quentes, ainda muitas outras que aqui passam o Inverno antes de retornarem aos seus pontos de origem setentrionais. Algumas são observáveis no Parque apenas de passagem ou acidentalmente— sendo precisa a sorte do observador— enquanto outras por lá ficam bastante tempo, mais fáceis de ver ou mais esquivas.
Não tenho a certeza de que esta riqueza ornitológica seja do conhecimento da maior parte dos que usufruem do nosso maior espaço verde urbano. Mas trata-se de um facto importante. Considerando que ocorrem em Portugal cerca de 300 espécies de aves, entre residentes e migradoras, fácil é concluir que se trata de um património significativo— e mais ainda precisamente porque se trata de um parque urbano.
A sua localização, junto ao mar, e a diversidade de formações vegetais existentes— alternando espaços abertos com zonas mais densamente arborizadas, a presença dos lagos e de charcos, a diversidade de espécies arbóreas lá introduzidas, e a relativamente grande área disponível são certamente elementos que tornam possível a existência de tantas espécies no Parque da Cidade.
Assim, quem caminha, corre ou simplesmente contempla aquele oásis de calma e de beleza, pode contar— assim a sua atenção para tal se dirija— com a aparição de aves bem raras de ver na cidade: do peneireiro-comum à galinha-d’água e ao garajau-comum, da garça-real à águia-de-asa-redonda, do pica-pau-malhado-grande ao gaio e à rola-brava. Até, caindo a noite, não será impossível detectar os sons característicos do mocho-galego e da coruja-das-torres.
Isto sem querer menosprezar a presença no Parque de diversos pequenos mamíferos, como o ouriço-cacheiro e o coelho-bravo, e ainda de diversos anfíbios e répteis, e uma infinidade de invertebrados. Nem será preciso referir a pródiga vegetação, composta por grande número de espécies.
Claro que não se trata de um espaço «selvagem». Mas essa condição urbana, pensado para o conforto humano, e o próprio facto de se tratar de um ecossistema em transformação, por ser recente, torna o Parque mais interessante do ponto de vista da sua biodiversidade.
Assim, liberto finalmente da pressão imobiliária que ameaçava cercá-lo, mas ainda esperando decisões importantes para a sua integridade, o Parque revela a importância decisiva que assume na «selva de cimento e asfalto.» Pelo que o seu atravessamento à superfície pela linha de Metro ou— muito pior ainda— uma avenida cortando o território verde (ainda há pouco defendida por um estimável vereador socialista) são verdadeiras novas ameaças que urge esconjurar.
Isto para falar, imaginem, do Ano Internacional da Biodiversidade que agora começou. Tempo de valorizar a diversidade de formas de vida, começando por um conhecimento melhor do que nos rodeia. Da biodiversidade dependemos, para a nossa alimentação, para produzir os nossos medicamentos, para assegurar condições propícias à vida humana. E precisamos dessa diversidade para que a beleza do mundo não se extinga também, corroída pela praga da uniformização e banalização de tudo, das paisagens e das vidas.
Aqui mesmo ao pé da porta, podemos ver como a Natureza— que tem horror ao vazio— resiste e persiste apesar de tudo o que se faz contra o património natural.
Insistirei neste tema em próxima crónica!
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada no Jornal de Notícias, 5/1/2010)

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