A proposta da Câmara Municipal de Valongo está agora na fase importante de «debate público» para receber sugestões, críticas e contribuições por parte de todos os interessados.
Trata-se de uma boa notícia. Ao longo de décadas se vem falando da necessidade de proteger aquelas serras e os valores naturais, patrimoniais e culturais que lá se albergam. Dizer que a serra de Santa Justa e suas imediações deveria ser o grande «pulmão verde» da Área Metropolitana do Porto quase passou a ser lugar comum. Mas não deixa de ser verdade. Ou melhor: aquelas serras deveriam fazer parte fundamental de uma rede de espaços naturais na enorme cidade metropolitana, preservando biodiversidade, paisagem, e tornando possível a qualidade de vida e o mínimo equilíbrio ecológico na «selva de betão» em que se tem transformado o território do Grande Porto.
Na proposta, assinala-se que a área a classificar «abrange cerca de 1.070 ha, possuindo valores patrimoniais e paisagísticos que importa preservar, requalificar e valorizar.»
Lê-se ainda no documento que «urge reforçar as medidas de protecção, definir e aplicar políticas de conservação da natureza, da biodiversidade e do legado histórico-cultural que garantam a gestão sustentável do território, valorizando o património e o usufruto adequado dos espaços e dos recursos. A protecção desta área terá reflexo não só na conservação e preservação do património natural e cultural, mas também na qualidade ambiental e de vida do Homem, contribuindo para o seu equilíbrio e bem-estar.»
Belas palavras, sem dúvida. Convém é que passem depressa para os actos. Ninguém ignora que a Serra de Santa Justa e Pias se vem degradando. Os fogos causticam todos os anos o coberto florestal, se é que se pode chamar isso aos eucaliptais que dominam por ali e que é urgente começar a substituir por espécies arbóreas próprias da região, reganhando lentamente a configuração natural, a que permite resistir melhor aos incêndios e fomentar a presença da fauna e flora características. Lixeiras, sucatas, todas as formas de falta de civismo ali proliferam; espécies botânicas e animais únicas estão em risco de se perderem para sempre. O rio Ferreira acusa males de poluição e de desmazelo que é preciso contrariar.
Será preciso não apenas classificar, mas gerir bem e renaturalizar o que se deixou empobrecer. A área será preciosa para o recreio e laser das populações, mas esse facto terá de ser sabiamente conciliado com a rigorosa protecção da Natureza.
De qualquer modo, uma boa notícia, sim, a saudar e a acompanhar. Pena é que a Área Protegida agora sugerida não envolva os municípios vizinhos de Valongo, como Paredes e Gondomar. Esse factor de cooperação permitiria alargar a zona protegida e dar maior escala ao tal «pulmão verde.» Porque é sempre tão difícil pôr os autarcas a cooperar sem bairrismos doentios e ilógicos?
Espera-se que seja essa cooperação o passo seguinte. Ou estarei a ser demasiado optimista?
Bernardino Guimarães
(Crónica Antena 1, em 18/2/010)
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