quinta-feira, abril 28, 2011

CRÓNICA DO FIM

A impermanência é a regra, constatam os filósofos. Tudo, mesmo aquilo que nos parece imutável e solidamente perene, traz em si os germes da mudança. Como um rio, cuja água nunca é a mesma, enchendo segundo a segundo com rumo definido, só aparentemente fixo. A observação da Natureza ajuda-nos a entender, ou até a aceitar essa marcha do tempo sulcando marcas na esfera biológica, moldando a vida, as formas de vida e as características das criaturas. Pretender ficar isento e apartado dessa lei inelutável, que integra princípio e fim, seria ilusão ou escasso entendimento. Muito menos a crónica, esta que aqui se transmite, que vive do que acontece e portanto do tempo, e já por isso é regida por Cronos, um personagem sisudo que era divindade governadora do Tempo e associado também a Saturno, planeta dos anéis e dos dedos que movem o Destino—o que quer que Destino seja.
Estranho (e entranhado) é este gosto pelo eco das ideias e das palavras, esta vertigem de dizer aos outros, de chegar aos ouvidos e de vencer distâncias e silêncios. Fazer opinião? Talvez seja vanidade apenas. Sabemos que opinião publicada não faz opinião pública, que a voz— levada pelas ondas pelo éter fora, levitando em frequências moduladas, fica afinal ali, presa no seu próprio instante, inerme e pretensiosa. Que pensa disso quem ouve?
Mesmo a vontade de propagar alguma coisa sobre Ambiente e Natureza, na tentativa de incentivar à sua «defesa», pode bem ser equivocada.
Durante muitos milénios (o Tempo uma vez mais!) os homens quiseram defender-se da Natureza, não defendê-la. Casos de vida e de morte. Abrigo contra as intempéries, machado contra a floresta bravia, armas para a caça, astúcia contra os animais competidores, luta pela sobrevivência, mãos para a entreajuda.
A Natureza seria simultaneamente Mãe criadora e pródiga e ameaça permanente, contradição bem resolvida pelos arremedos metafísicos dos nossos antepassados.
Assim foi ao longo dos séculos, até ao dealbar da idade moderna. Muita coisa mudou a partir daí. Essa mudança veio a colocar-nos em tal posição de domínio que é a Natureza que aparenta ser vítima, necessitada de protecção e cuidados.
O nosso humano domínio (que tem como arquétipo Prometeu, o herói que rouba aos deuses o fogo do Céu) arrogante e de vistas curtas, modificou realmente a ecologia do planeta. Mas o perigo que decorre dessa insensatez não pende tanto sobre a Terra como sobre as nossas mesmas cabeças. Poluída e degradada, a Terra continuará a sua marcha e pode faze-lo sem nós, que nunca deixamos de depender dos seus serviços e da saúde dos recursos que nos oferece.
A crónica multiplicou-se em indignações, errou muitas vezes, terá sido injusta sem o saber. Olhou sobre a cidade (e o mundo) com olhos falíveis e precários. Bateu-se, amou causas e falou de casos.
Pouco importa o eco que de si deixaram as crónicas que passaram. Quiseram ser sempre (mas será que foram?) palavras incertas no momento certo.
Bernardino Guimarães
(Crónica emitida pela Antena 1, 28/4/2001)

3 comentários:

  1. Q o fim marque o tempo de muitos recomeços! Caminhando peregrino! Avante!!!

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  2. Meu Caro Peregrino...

    Não te queixes meu amigo... tu não sabes e talvez nunca saberá a diferença que fazes com tuas palavras... teus pensamentos e tuas perigrinações em nossas vidas.
    Não te consumas por insegurança... é de ti que vem força pra muitas pessoas, animais e causas seguirem seus próprios caminhos... são muitas jornadas a desbravar e todos nós precisamos de ti... muito e muito
    Não, não será perca de tempo nos dar um pouco de teu olhar... logo agora que fizeste aniversário de jornada... me alegra saber que fui a primeira a te parabenizar de teu aniversário de Blog. Você é a cereja do bolo... continuarei a lhe dar parabéns. Depois de dois longos anos deixando-nos ver ângulos de visões diferentes... atalhos em estradas alheias foram abertas e seguidas sem temor e sem medo.
    A ignorância é a única coisa que devemos temer.... De certo que nem todos que por aqui passam, deixam notícias ou comentários mas te falo e sou bem clara nisso... todos levam um muito de ti... de tua alma e de teu espírito desbravador quando passam por aqui e isso é muito bom... bom pra o homem e bom pro mundo. Fecha teus olhos meu peregrino... espero que sintas a energia que te cerca. Muitos estão de olho em ti e hoje estais triste mas amanhã será outro dia e teus caminhos se iluminaram como sempre em um raio de sol... um Sol de Aurora.
    Te abriga meu peregrino... te abriga contra as intempéries de tuas chuvas de granizo em ti mesmo, e se ficar difícil, marcha em direção à floresta... ela tem candura e mimos pra cuidar de teus pés cansados de jornadas tão árduas. Guarda tuas armas e vem ver os animais em sua relva... a luta da sobrevivência é um caminho natural dos seres vivos e não adianta se julgar por ela... no final vamos sobreviver... todos nós de uma forma ou de outra.
    Tuas crônicas não podem ser do fim... vão ser sempre do começo, do começo de um novo dia.... o dia do amanhã. Ele sempre chega a nós numa Aurora lindaaaaaaaaaaa.
    Um abraço meu querido peregrino...
    Um beijo meu poeta...
    Te animas que estamos a te ouvir e a te ver, bj

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  3. O fim ou, quem sabe, o início de uma era bem melhor?

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