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terça-feira, junho 22, 2010
CIRCUNVALAÇÃO
1)Os plátanos, dezassete ao todo, que foram abatidos na estrada da Circunvalação, há poucos dias, deixaram nesse local um vazio demasiado gritante. Quem lá passa pode constatar, sem esforço mas com alguma angústia, os efeitos impressivos de uma operação de desarborização. Numa via tão degradada e tão pouco urbana, a faixa central com os seus gigantescos e vetustos plátanos representa quase o único sinal de beleza e de harmonia ao longo do trajecto longo e algo desconexo.
A polémica, inevitável, estalou. O corte das árvores foi da responsabilidade da Estradas de Portugal, que gere a via, com o apoio dos serviços municipais do Porto. Respondendo a protestos de cidadãos indignados, a empresa, a autarquia e técnicos envolvidos esgrimiram com o mau estado sanitário dos plátanos abatidos e com o perigo que a sua queda poderia representar. Mas tais explicações não convenceram todos, até porque de facto, aos olhos de um leigo pelo menos, não se notou nas árvores caídas quaisquer sinais de doença ou infestação visível.
É certo que uma análise mais cuidada, ao nível da estrutura radicular por exemplo, pode ter fornecido dados bem diferentes.
Nestas situações, porém, fica sempre o sabor amargo da dúvida: as entidades que devem velar pelo património arbóreo público raramente explicam, com detalhe e rigor ( e atempadamente) as razões verdadeiras destes abates. Se era forçoso o arboricídio, não seria melhor que fossem explicadas as causas e motivos, de forma tecnicamente indiscutível? Para que não fiquem a pairar dúvidas e suspeitas.
O corte de árvores centenárias em tão grande número não pode ser, uma qualquer trabalho na via pública. Representa um acto com relevância na memória, na estética, na ecologia da cidade. Merece pelo menos uma explicação cabal—que esclareça também as causas indirectas das maleitas de que alegadamente sofrem as árvores, que em muitos casos podem ser atribuídas a actividades, actos e omissões das próprias entidades que subitamente se dão conta da necessidade de as suprimir!
Talvez uma comissão independente e tecnicamente apetrechada, ao nível municipal, devesse ser criada para estes casos!
Resta a tristeza das árvores cortadas, reduzidas a toros de madeira rapidamente subtraídos ao seu lugar de sempre. Já agora, haverá plantação de novas árvores no lugar agora deserto da Estrada da Circunvalação?
2)Para quem se preocupa com a energia, como factor essencial em termos económicos e ecológicos, certamente que se trata de uma triste notícia: as escolas remodeladas ou renovadas nos últimos anos, no âmbito de um vasto programa governamental, consomem, depois dos trabalhos de reabilitação, até duas vezes mais energia do que anteriormente! Conclusão: a eficiência energética continua a ser ignorada, mesmo nas suas mais básicas aplicações. Decisores e técnicos erguem edifícios e infra-estruturas públicas sem a menor das preocupações com as normas que permitiriam reduzir consumos de energia e poupar dinheiro aos contribuintes e emissões de CO2 à atmosfera.
Como é isto possível? Existe um plano nacional para a eficiência energética que aconselha o Estado, até para dar exemplo, a promover boas práticas no uso da energia, como o isolamento e ventilação que pode evitar a utilização desmesurada de ar condicionado, o grau de exposição solar, a escolha dos próprios materiais usados na construção, as energias renováveis para aquecimento de água e a microgeração para produção de electricidade. Eis algumas coisa simples que estão longe da mente dos que ainda acreditam que desperdício é «progresso»!
Bernardino Guimarães
( Crónica publicada no Jornal de Notícias, em 22/6/10)
quarta-feira, abril 29, 2009
JARDINS DO PORTO
Mesmo ali ao pé, as bocas grandes do Metro como que sugam vultos apressados. Olha-se para o relógio. Mas o silêncio guardado pelos plátanos mantém-se. Eu sei que esse silêncio, que tantos buscam, é afinal pouco mais do que imaginário – os sons da praça, circundada de trânsito automóvel furioso e imperativo, os gritos e a agitação, não são contidos pelas formas imponentes e altas das árvores, senão parcialmente; e a calma que se vive dentro do pequeno jardim urbano deve fazer parte de um acordo tácito, subscrito pelos que o frequentam, concordando em sentir o silêncio mesmo que os sons exteriores estejam bem presentes. De que outra forma se poderia viver aqueles momentos de refúgio? Ignorando a fragilidade do diminuto e problemático paraíso, torna-se possível sentir a sua frescura e o seu acolhimento. Pensar que tudo de mau e de feio se suspende durante aqueles tempos perdidos.
Os jardins imitam a natureza, como a vida, por vezes imita a arte? Ou recriam natureza como os homens gostariam que ela fosse? Mais geométricos e racionais, mais intimistas e sonhadores, mais ciência ou mais recreio, são estes espaços cada vez mais reclamados. Mas quem os frequenta? Ao cruzarmos o jardim no meio de uma manhã atarefada, dir-se-ia que os presentes são, na maioria talvez, parte daqueles «segmentos» que a cidade pior trata, idosos impávidos, estrangeiros tristes, solitários absortos. E pobres, que os há em profusão e cada vez mais, desgraçadamente. Aquele refúgio, ao menos aquele, entre monumentos vegetais e uma calma precária, pertence-lhes. Fazem dele o seu «campus», a sua vitrina, o seu passeio sem fama.
Bem diferente dos grandes parques urbanos, onde a afluência é mais variada e se pratica desporto ou se corre a passo contado antes de um dia de trabalho. Aí o paraíso é mais próximo da natureza idealizada, e o «stress» é o demónio que se exorciza. Nos pequenos jardins da cidade, que pensarão sobre «stress» os excluídos da sorte e os esquecidos do tempo?
Claro que os jardins podem também ser do saber: quem direccionar o olhar e usar da atenção, pode encontrar árvores notáveis, procurar cedros do Himalaia e do Atlas, sequóias e ginkgos nesses oásis do Porto, ou olhar para estátuas frias e românticas, coretos que já foram festivos. Ou até aprender botânica simples, ver coisas ínfimas e fascinantes, musgos, fetos, pinhas, flores, folhas, interessar-se pelas aves que por lá pousam, o melro negro, a rola turca de colar, o pisco-de-peito-ruivo tímido. Na manhã a que me reporto, a Praça do Marquês abrigava pessoas em busca de silêncio. Atravessar o jardim para alcançar outro lugar pareceu-me quase um sacrilégio. Os plátanos antigos, mesmo mutilados e maltratados como foram no passado recente, guardavam tudo aquilo, inventando um silêncio vegetal, bálsamo na manhã afogueada da metrópole.
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada no Jornal de Notícias, 28/4/2009)
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sexta-feira, abril 10, 2009
VERDE NOVÍSSIMO

Há qualquer coisa de novo. Notícia? Convém então fazer saber que os plátanos do Jardim do Marquês exibem verde novo, verde tenro, novidade. E que o céu é de Páscoa, azul único, memória e lição de pintura. Chove e volta o azul mutável.O Sol entra e tudo brilha, púrpura espalhada na terra.
O que borda o cenário é a silhueta dos plátanos--entre a luz que muda e nunca é a mesma de há alguns segundos, as bocas do Metro e sua pressa, as pessoas sentadas nos bancos em minutos que parecem levemente tristes. A integridade resistente das árvores. A sua expansão apontando às estrelas. As suas feridas, que são muitas, seiva derramada, registo de intempéries e barbaridades, força vegetal que aprisiona o tempo e o incorpora todo na sua matéria.
Como se a esperança fosse aquele ficar, aquele durar, aquela invenção do silêncio, aquela fuga da prisão do solo pelo desejo de infinito.
Águas mil do lago celebrando tudo isto.Uns velhos jogam sueca perto do coreto e os sinos dobram, chamam, mediáticos. Páscoa Feliz!
BG
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