quarta-feira, março 18, 2009

PRIMAVERA SILENCIOSA

Em 1962, a simples publicação de um livro nos Estados Unidos provocou uma «tempestade» cujos efeitos se fazem ainda hoje sentir.
O livro chamava-se Silent Spring (Primavera Silenciosa) e a sua autora, Rachel Carson, era já bastante conhecida do grande público, pelo sucesso de algumas dos seus livros anteriores.
Silent Spring baseou-se em vários anos de estudos e consultas, denunciava a crescente contaminação do ambiente pelos produtos químicos mais variados, em particular os aplicados na agricultura como pesticidas, herbicidas e fertilizantes. A obra mostra, com dados irrefutáveis, os prejuízos permanentes causados ao ambiente e à saúde humana com a aplicação indiscriminada de insecticidas como o DDT, que entram na cadeia alimentar, poluem água e solos e vão semeando um rasto de morte nos ecossistemas.
Primavera Silenciosa – o livro-testamento de Rachel Carson— teve um efeito imediato— dividiu opiniões, abalou na opinião pública a crença passiva nas certezas arrogantes da indústria química. Mas estes potentados económicos jamais lhe perdoaram a audácia— usando de todos os expedientes para caluniarem e demolirem a credibilidade da escritora americana. Em vão. O livro causou demasiado impacte, acabando por motivar inúmeros outros estudos e investigações e, algum tempo depois, a adopção de legislação, nos EUA como em muitos outros países, no sentido do controle dos agro-tóxicos. A proibição do letal DDT foi uma vitória importante e bastante conhecida.
Esta causa, que Rachel Carson escolheu como a batalha da sua vida (morreu em 1964)
--continua hoje. Talvez com abordagens mais sofisticadas, as indústrias químicas continuam a opor-se a regulamentações claras dos seus produtos e a agricultura dita convencional não deixou ainda o paradigma do produtivismo apoiado nos agro-tóxicos.
Talvez a Primavera um dia volte a ser cheia dos sons dos pássaros e dos insectos— a sua ausência chocante nos campos americanos inspirou a Rachel a escolha do título do livro.
Os efeitos dos insecticidas na saúde humana continuam a ser, no mundo inteiro, uma fonte de graves preocupações.

Rachel Louise Carson nasceu em 1907 no Oeste da Pensilvânia, e desde muito cedo revelou interesse pela escrita e pela natureza.
Licenciou-se em Zoologia em 1932 na John Hopkins University, e pós-graduou-se no Laboratório de Biologia Marinha de Woods Hole (Massachusetts).
Diz-se que a escrita de Silent Spring foi motivada por uma carta de uma amiga, que se queixava da aplicação massiva de pesticidas por avião sobre o santuário de preservação de aves que mantinha na sua propriedade privada. Foram 4 anos de trabalho, juntando dados, entrevistando peritos, visitando no terreno áreas afectadas.
Apesar do encarniçamento das indústrias químicas, que tentaram mesmo impedir a publicação do livro, Rachel recebeu em 1963 o Prémio de Conservacionista do Ano, e a obra foi publicada em 3 números pela revista New Yorker.
O Presidente Kennedy elogiou a autora e favoreceu a legislação que viria a ser aprovada no Congresso. Em 1980, recebeu postumamente a Medalha Presidencial da Liberdade.
Odiada por aqueles que se julgavam impunes no regime de segredo e falta de transparência, Rachel não pôde assistir aos avanços no conhecimento dos efeitos da poluição que denunciou. A sua lucidez e coragem continuarão a ser lembradas pelos que amam a Natureza e a Verdade.
Silent Spring está publicado em português (Editora-Europa-América)

Bernardino Guimarães

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