Neste mês de Março comemora-se o Dia Mundial da Floresta ou Dia da Árvore, de tão antigas tradições. Não tanto a efeméride mas certamente o objecto dela, vale bem uma crónica. Já cheira a Primavera, discretas florações mostram-se aqui e ali. Um pouco por toda a parte preparam-se com certeza comemorações— onde não faltará a ritual plantação de árvores, mesmo se o nosso clima não aconselha tal acto em época tão tardia. Salva-se raras vezes a árvore plantada, quase sempre a lembrança do festejo. A entrada primaveril proporciona assim, de qualquer modo, uma oportunidade para lembrarmos a importância das árvores na nossa vida, ecologia e economia consideradas-- e talvez fique alguma coisa das homenagens ás rainhas do mundo vegetal. Pena é que, nas ruas das cidades como nos campos, a retórica ou o sentimentalismo da data seja desmentida pela dureza dos factos.
Se progresso há no tratamento da árvore urbana, a verdade é que persistem os atentados e desatinos em tudo contrários aos discursos de exaltação e aos anúncios municipais. Árvores que serão de porte considerável em espaços exíguos que não acautelam o seu crescimento futuro. Em certos locais, ainda a poda regular e assassina a desfigurar estes seres, vivos e singulares. Pior do que isso: cada vez é mais escasso e problemático o espaço da árvore nas cidades, expulsas pelo betão, pelo parque de estacionamento e mesmo por aquelas «requalificações urbanas» onde pontifica o cimento e o granito como moda, que recusa a árvore e detesta os canteiros de flores!
Em volta dos cada vez menos nítidos perímetros urbanos, é o que se vê: a expansão das construções e a febre de lotear deixam pouco lugar ao verde. O que resta são aquelas degradas monoculturas industriais de eucaliptos –e talvez de pinheiros bravos—que ardem no Verão em volta da grande cidade/metrópole, entregues ao lixo e a uma gestão pouco menos do que inexistente.
Este panorama sombrio puxa o desalento, pouco primaveril. Ultrapassar este estado de coisas não parece fácil. A cultura dominante não ama as árvores e gostaria de eliminar o que resta de rural e de ligação à terra em proveito dos negócios imobiliários— motor de uma economia que não consegue transcender o atraso e a desqualificação paralisante.
Mas ar puro, regulação do clima, paisagem harmoniosa e atractiva, solo, água, são elementos em crise— e se o campo estiola de abandono e indefinição, a cidade respira mal e revê-se pior num quotidiano cinzento e duro.
Talvez a opção estratégica para os aglomerados urbanos seja mesmo entre «vegetalização» e «mineralização». Se quisermos inverter o rumo e seguir a primeira alternativa, é na árvore que teremos o elemento básico para transformação e melhoria.
O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) lançou recentemente o programa global «Um Bilião de Árvores» como meta mundial para os próximos tempos.
Pois bem, provavelmente a Área Metropolitana do Porto precisa de umas centenas de milhares de árvores novas!
As coisas podem ser mais simples do que as pintam alguns teóricos. Não sei se precisamos de «cidades competitivas» (estranha ideia!) mas não restam dúvidas de que precisamos, e muito, de cidades com vida e com qualidade de vida. E era bom que houvesse uma ideia grande, generosa e mobilizadora— plantar árvores, recriar bosques e inventar jardins em todos os espaços favoráveis. Cirurgia urbana, humanização que vem da presença do que é Natureza, harmonia entre cidade e campo e não degradação dos dois conceitos.
Mais árvores, menos loteamentos. Um programa demasiado simples?
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada originalmente no Jornal de Notícias)
Se progresso há no tratamento da árvore urbana, a verdade é que persistem os atentados e desatinos em tudo contrários aos discursos de exaltação e aos anúncios municipais. Árvores que serão de porte considerável em espaços exíguos que não acautelam o seu crescimento futuro. Em certos locais, ainda a poda regular e assassina a desfigurar estes seres, vivos e singulares. Pior do que isso: cada vez é mais escasso e problemático o espaço da árvore nas cidades, expulsas pelo betão, pelo parque de estacionamento e mesmo por aquelas «requalificações urbanas» onde pontifica o cimento e o granito como moda, que recusa a árvore e detesta os canteiros de flores!
Em volta dos cada vez menos nítidos perímetros urbanos, é o que se vê: a expansão das construções e a febre de lotear deixam pouco lugar ao verde. O que resta são aquelas degradas monoculturas industriais de eucaliptos –e talvez de pinheiros bravos—que ardem no Verão em volta da grande cidade/metrópole, entregues ao lixo e a uma gestão pouco menos do que inexistente.
Este panorama sombrio puxa o desalento, pouco primaveril. Ultrapassar este estado de coisas não parece fácil. A cultura dominante não ama as árvores e gostaria de eliminar o que resta de rural e de ligação à terra em proveito dos negócios imobiliários— motor de uma economia que não consegue transcender o atraso e a desqualificação paralisante.
Mas ar puro, regulação do clima, paisagem harmoniosa e atractiva, solo, água, são elementos em crise— e se o campo estiola de abandono e indefinição, a cidade respira mal e revê-se pior num quotidiano cinzento e duro.
Talvez a opção estratégica para os aglomerados urbanos seja mesmo entre «vegetalização» e «mineralização». Se quisermos inverter o rumo e seguir a primeira alternativa, é na árvore que teremos o elemento básico para transformação e melhoria.
O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) lançou recentemente o programa global «Um Bilião de Árvores» como meta mundial para os próximos tempos.
Pois bem, provavelmente a Área Metropolitana do Porto precisa de umas centenas de milhares de árvores novas!
As coisas podem ser mais simples do que as pintam alguns teóricos. Não sei se precisamos de «cidades competitivas» (estranha ideia!) mas não restam dúvidas de que precisamos, e muito, de cidades com vida e com qualidade de vida. E era bom que houvesse uma ideia grande, generosa e mobilizadora— plantar árvores, recriar bosques e inventar jardins em todos os espaços favoráveis. Cirurgia urbana, humanização que vem da presença do que é Natureza, harmonia entre cidade e campo e não degradação dos dois conceitos.
Mais árvores, menos loteamentos. Um programa demasiado simples?
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada originalmente no Jornal de Notícias)
Essa crônica deveria ser dedicada a todas as cidades do mundo. Aqui no Brasil não é diferente... Destróem coisas belas, arrancam árvores, palmeiras centenárias e invadem parques para construir prédios com muitos andares. Minha cidade, Tietê, SP tem quarenta mil habitantes, é uma cidadezinha linda, com muitos casarios do período colonial, já tombados. Mas há muitos que estão sendo demolidos da noite para o dia. E é assim, com as árvores... Já derrubaram algumas centenárias com a desculpa de que já estavam ocas de cupins. Não cuidam, não respeitam... E as cidades cada vez mais abafadas, com ar irrespirável....
ResponderEliminarGosto muito do Peregrino, ele não faz turismo nos lugares que visita; busca-lhes o sentido...
Regina Gaiotto -Tietê, SP - Br
Tudo o que é simples o Homem não valoriza!
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