A sociedade de consumo esta aí para ficar. Todos temos, de certa maneira, consciência de que, demasiado, nos rendemos ao seu brilho – mas nem por isso fazemos grande coisa para nos livrarmos dessa volúpia, que nos impele a comprar e comprar, gesto paradoxalmente tão associado (habilmente?) à nossa liberdade individual.
Entre culpa e sensação de rondarmos o inevitável, talvez o pior seja essa impressão vaga de absurdo, tão presente e tão ignorada. Há boas razões pare que assim seja – mesmo em época de crise económica. O comércio, hoje em boa parte globalizado, dotou-se de instrumentos agressivos e eficazes, criando necessidades, ampliando desejos, iluminando apelos.
O “marketing” conhece bem os seus alvos e é suposto que os identifique, individualize e distinga, porque o tempo de mercado uniforme vai cedendo o passo a escolhas diversificadas, visando inteligentemente segmentos sociais, escalões etários, idiossincrasias regionais e as “tribos” mais diversas do universo fragmentado.
A publicidade é uma arma – e uma arte, cujo estro criativo se nos dirige todos os dias. Seria demasiado fácil culpar os publicitários e o seu trabalho. Só que esta coisa do consumo não se deslinda com “sentenças” peremptórias. E onde havemos de arrumar a nossa própria falta de discernimento? Sejamos claros: uma sociedade próspera, que permite o acesso generalizado a uma infinidade de bens de consumo e de serviços, não tem só maus aspectos.
Os que vivem na pobreza, na carência extrema do que é essencial para uma vida digna – e são no Mundo a maioria – sonham com uma sociedade assim. Em Portugal, muito do fascínio pelo consumo justifica-se pela memória dos tempos de pobreza e isolamento do país, memo que a simples consulta das frias estatísticas nos envolva numa realidade actual, de muita desigualdade e indigência.
A verdade é que, para os que têm mínimo acesso ás luzes do consumo, também a factura não se faz esperar – altos níveis de endividamento, passivo ambiental cada vez mais incontornável.
É que a tal sociedade de consumo parte do principio de que são inesgotáveis os recursos naturais – o que os factos desmentem dramaticamente. Enormes quantidades de resíduos de todo o tipo são a consequência primeira dos excessos praticados. Mesmo com o aumento da consciência ecológica, não parece que se relacionem ainda estes factos como seria lógico fazê-lo.
De qualquer modo, talvez a aposta certa deve ser na qualidade…do consumidor. A “sociedade” tem as costas largas. Mas a nossa vontade inteligente, na hora de consumir, pode fazer muito, tornando o consumidor mais cidadão.
Exemplos? Para além da melhor escolha qualidade/preço, podemos felizmente optar por produtos que garantidamente sejam menos prejudiciais ao ambiente – e á saúde. Podemos exigir do comércio que venda e exponha esses produtos. Preferir menos embalagens, não premiar o desperdício visível, são atitudes fáceis e úteis. Quem não quiser contribuir para o fim das florestas tropicais, deve preferir madeira ambientalmente certificada.
Se o consumo deve ser o mais possível sustentável, também no mundo inteiro há quem o queira mais “ético”. Em relação à natureza, mas também à justiça social. Vai sendo viável procurar o “Comércio Justo” que tenta estabelecer relações de troca mais equitativas com os produtores dos países pobres. E existe já alguma certificação que nos alerta contra importações produzidas em desrespeito pelos direitos humanos (recurso a trabalho infantil e à semi-escravatura.)
Escolhas. Muito depende de nós, afinal. Não por má consciência – mas por vontade de agir e mudar.
Bernardino Guimarães
domingo, abril 26, 2009
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"Vai sendo viável procurar o “Comércio Justo” que tenta estabelecer relações de troca mais equitativas com os produtores dos países pobres. E existe já alguma certificação que nos alerta contra importações produzidas em desrespeito pelos direitos humanos (recurso a trabalho infantil e à semi-escravatura.)
ResponderEliminarEscolhas. Muito depende de nós, afinal. Não por má consciência – mas por vontade de agir e mudar."
Bem haja, por evidenciar, a existência e importância do "Comércio justo"