quarta-feira, maio 27, 2009

BIODIVERSIDADE

Biodiversidade, já se sabe, quer dizer diversidade da Natureza viva. O conceito, muito recente pois foi utilizado pela primeira vez em 1986, refere-se tanto ao número de espécies animais e vegetais como à variabilidade genética dentro das populações das espécies. Mas sabemos que Natureza é diversidade. E que a redução dessa variedade e variabilidade só pode empobrecer e distorcer o conjunto. Uma espécie há que se interroga sobre o seu papel na Natureza— e sobre os estragos que vem infligindo no mundo natural. Essa espécie é a nossa.
Na malha urbana metropolitana do Porto, ainda podemos encontrar locais onde a biodiversidade é pujante. O cidadão interessado pode percorrer os trilhos do Jardim Botânico, conhecer flora autóctone e exótica e esclarecer dúvidas, contemplando a beleza daquele recanto. E o mesmo deve fazer visitando o Parque Biológico de Gaia e outros locais preparados para realçar e mostrar, com rigor, o que a vida é, as formas de que a vida se reveste. Mas qualquer jardim, qualquer nesga de ruralidade que ainda reste, os ribeiros não cobertos de betão e a própria orla do mar servirão de escola para o urbano que já se esqueceu de que nem tudo provém das prateleiras dos hipermercados ou circula nas auto-estradas!
Biodiversidade? Dentro da urbe? Seria então biodiver-cidade! E para que serve isso?
Biodiversidade é a comida que nos vai parar ao prato, as espécies vegetais que fomos moldando para nosso serviço básico, mas que foram retiradas ao longo dos séculos da Natureza---e ainda hoje precisamos desses ancestrais genes silvestres para revigorar os cultivos que nos alimentam. Biodiversidade é a pesca, o conjunto de peixes e outros animais que fazem parte da nossa dieta, e as diferentes interacções entre eles. Biodiversidade é a floresta que fixa carbono, regulariza o ciclo da água e melhora os solos, produzindo madeira e uma infinidade de coisas mais. Biodiversidade é a paisagem que estimamos e que o turismo procura, os produtos de qualidade, os insectos que fazem o serviço da polinização, as aves e outros seres que alegram a nossa vida e estão no centro da nossa cultura. Afinal sempre nos diz respeito!
Ordenar o espaço urbano é abordar também a biodiversidade, procurar travar a sua perda e tirar dela todo o partido para melhorar a cidade.
Na Área Metropolitana do Porto, precisa-se de reservas naturais para salvar os rincões mais preciosos, e de parques urbanos— mas ainda mais é necessário estabelecer «corredores verdes» entre esses locais protegidos, construir uma rede contínua, se possível, que se sirva dos espaços verdes restantes, do curso de rios e ribeiros, da orla costeira e das zonas agro-florestais que devem ligar-se aos perímetros urbanos.
Uma malha verde (de bosques, de quintas, de matas, de jardins e de vias abandonadas) e azul (de cursos de água e suas margens vegetalizadas).
Devemos integrar o tópico biodiversidade no direito do urbanismo? Muita coisa começaria a mudar.
Um tal planeamento físico precisa de vontade política de mudança e cooperação. Ainda existem muitos locais à espera de atenção, enquanto é tempo.
Uma iniciativa da Campo Aberto— a campanha dos 50 espaços verdes— provou-o com exemplos concretos, que podem ser consultados no «site» da associação.
A par com a outra prioridade— a reabilitação do edificado urbano, reganhando população para os centros urbanos— e conjugando as duas, eis um desafio crucial, se quisermos progresso a sério e qualidade de vida para todos!
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada ontem, 23/5/09/ no Jornal de Notícias)

Sem comentários:

Enviar um comentário