segunda-feira, junho 08, 2009

ENERGIA PARA MUDAR

«Se o governo de uma cidade não consegue demonstrar liderança com o uso de energias renováveis e soluções para usar a energia de uma forma eficiente, é difícil que tenha credibilidade perante os cidadãos, como protector do meio ambiente.» Isto disse o presidente executivo de uma grande empresa energética norte-americana, citado pelo «Wall Street Journal».
De facto, é nas cidades que se esperam as mudanças mais significativas em termos de energia, com implicações em muitos aspectos da vida urbana.
Sob o pano de fundo da oscilação do preço do petróleo, que já ultrapassou a barreira dos 100 dólares/barril, navegando hoje pelos 70, ao sabor das variações na procura que a crise torna incerta, e das alterações climáticas, ameaça global já em curso e principal «legado» da utilização intensiva de energia de origem fóssil--mesmo por cá, alguma coisa mexe. Está em vigor o Plano Nacional para a Eficiência Energética (que deve ser a primeira das preocupações) e também o Regulamento que obriga à certificação energética dos edifícios e à instalação de painéis solares para aquecimento.
Parece é que os esforços não são ainda suficientes. Mudar de vida implica mesmo liderança e implica tornar prioritário, politicamente, o combate às causas das alterações climáticas. Emitir menos dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa para a atmosfera pode não ser tarefa fácil, sobretudo se não se alterarem profundamente as rotinas, o modo de organização do território e da vida quotidiana, a forma como vemos o uso da energia. Convém dar uso às energias renováveis, preferindo sempre o paradigma descentralizador que a microgeração permite, também por efeito da evolução tecnológica acelerada nesta matéria. Ao mesmo tempo, importa encarar de outra forma as políticas de transportes, o consumo, o planeamento do espaço urbano.
Boas ideias vão surgindo: a cidade do Porto, contando com a sua Agência de Energia, definiu metas temporais e objectivos na redução das emissões poluentes e na alteração do modelo energético urbano. A instalação de milhares de metros quadrados de painéis solares em bairros sociais é outra medida a aplaudir, devendo ser alargada ainda. A introdução do factor «eficiência energética» nos critérios de atribuição de créditos para construção e na reabilitação da Baixa é também extremamente positiva.
Em Vila Nova de Gaia, a autarquia encetou um esforço de racionalização e poupança na iluminação pública, esse factor permanente de desperdício.
Oliveira de Azeméis adjudicou a construção de um pavilhão gimnodesportivo municipal com recurso à energia solar e à biomassa, outro exemplo a seguir.
Algumas empresas privadas anunciaram investimentos vultuosos em energia solar e em auditorias ao seu próprio consumo energético, o que é de saudar!
Muito mais poderia referir.
Falta agora um impulso coordenado, que dê escala e dimensão, juntando vontades, que, isoladas, dificilmente estarão à altura dos desafios.
A Área Metropolitana do Porto deveria eleger como programa político a causa das alterações climáticas e a mudança no plano energético, com medidas comuns nestas matérias, também no ordenamento correcto do território e protecção das zonas verdes, estrutura de mobilidade e construção sustentável, entre outros. Como o estão a fazer Londres, Paris e tantas outras metrópoles europeias.
Para tal, as fronteiras dos concelhos são demasiado estreitas. Com visão de futuro, na dimensão metropolitana é possível pensar realmente o tal desenvolvimento sustentável, tão falado e abusado mas ainda pouco ou nada traduzido em políticas efectivas e participadas.
Bernardino Guimarães

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