sexta-feira, julho 10, 2009

O NOSSO FUTURO COMUM

Há 22 anos, em Abril de 1987, a publicação de um relatório pela Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento, das Nações Unidas, denominado «O Nosso Futuro Comum», marcava a agenda planetária. Trata-se de um extenso documento, preocupado com o encontro de soluções para um dilema cada vez mais angustiante: crescimento económico versus defesa do planeta, economia mundial e protecção dos recursos naturais.

«O Nosso Futuro comum» tinha a tarefa facilitada quanto aos diagnósticos, porque surge na senda de numerosos documentos e alertas (como o estudo sobre «Os Limites do Crescimento») que desde a década de 70 vinham chamando a atenção para a crescente degradação do ambiente, esgotamento dos recursos naturais, contaminações tóxicas acumulando-se tragicamente, aumento caótico das grandes cidades, ameaças sobre o futuro da Humanidade que eram em boa parte ignorados pelos decisores em todo o mundo. Nessa altura, havia já consciência das poluições e seus perigos; da perda de biodiversidade, da escassez cada vez mais nítida de água potável, e começava já a ficar clara— pelo menos em meios científicos— a responsabilidade humana na alteração gradual do clima. Isto num mundo onde a população crescia vertiginosamente e muitas cidades se tornavam megalópoles a um ritmo espantoso. Mas as Nações Unidas apostaram num grupo de personalidades cuja autoridade e isenção não pudesse ser posta em causa. Estabelecer consensos, não apenas sobre o diagnóstico, mas sobre medidas concretas e programas de acção definidos, não seria tarefa fácil, no contexto de uma situação mundial muito dominada ainda pela lógica bipolar da «Guerra Fria» que ocultava geralmente todos os outros problemas.
A Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento desenvolveu os seus trabalhos durante 3 anos e veio a «dar à luz» o famoso relatório que tomou, para a posteridade, o nome da sua presidente, a senhora Gro Harlem Brundtland, então primeira-ministra da Noruega.
«O Nosso Futuro Comum» consagra definitivamente o conceito de «desenvolvimento sustentável» procurando uma síntese operativa entre o desenvolvimento económico e a defesa dos ecossistemas e alargando o campo de visão para os problemas da equidade social e combate à pobreza, cooperação internacional e práticas menos predadoras para o ambiente.
O relatório define desenvolvimento sustentável como «o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer as capacidades das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades» --o que enfatiza a ideia de «pacto de gerações» que deve assegurar, no tempo, uma nova forma de organizar as sociedades humanas e de gerir os recursos mundiais que são finitos e dos quais, afinal de contas dependemos.
O Relatório Brundtland aponta recomendações como limitar o crescimento da população, garantir recursos básicos como água, energia e outros a longo prazo, preservar a biodiversidade e os ecossistemas, diminuir o consumo de energia e desenvolver tecnologias energéticas renováveis, aumentar a produção industrial de países não industrializados via tecnologias limpas, controlar a urbanização desordenada e atender a necessidades básicas de saúde, educação e habitação.
A consciência de que não mais é possível pensar num crescimento exponencial da economia sem contabilizar o efeito desse crescimento em termos de ambiente e de esgotamento de recursos; a constatação dos enormes desequilíbrios gerados, em termos de desigualdade na distribuição da riqueza e de degradação da Terra; dois eixos essenciais das propostas deste documento.
22 anos não foram suficientes para salvar o planeta; se é verdade que a consciência ambiental cresceu em toda a parte e se integrou nas preocupações dos cidadãos e da comunidade internacional, também é certo que as grandes linhas do processo de destruição da Natureza, tantas vezes em nome de uma falsa noção de progresso, permanecem dominantes. Muito se conseguiu, em todo o caso, e o conceito de desenvolvimento sustentável não mais haveria de deixar a «agenda» político/mediática-- sem que os seus princípios sejam sempre realmente concretizados, como se sabe. Um marco na história da consciência e da acção mundial pela defesa da Terra e do futuro da Humanidade, apesar das evidentes insuficiências. Em grande parte, o relatório Brundtland esteve na base do que veios a ser a Conferência Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992, a Eco92 de onde saiu o essencial das traves mestras da «agenda ambiental» do mundo, as Agendas 21, a biodiversidade, as alterações climáticas e tudo o mais que hoje faz parte de um combate quotidiano, e de desfecho sempre incerto, por um mundo melhor, mais limpo e mais justo, à altura de uma relação inteligente e durável entre Homem e Natureza.
Bernardino Guimarães

1 comentário:

  1. «O Nosso Futuro Comum» consagra definitivamente o conceito de «desenvolvimento sustentável» procurando uma síntese operativa entre o desenvolvimento económico e a defesa dos ecossistemas e alargando o campo de visão para os problemas da equidade social e combate à pobreza, cooperação internacional e práticas menos predadoras para o ambiente."
    Mas , no entanto, continua tudo igual. O que se passa? O egoísmo não vai terminar ?

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