Há 22 anos, em Abril de 1987, a publicação de um relatório pela Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento, das Nações Unidas, denominado «O Nosso Futuro Comum», marcava a agenda planetária. Trata-se de um extenso documento, preocupado com o encontro de soluções para um dilema cada vez mais angustiante: crescimento económico versus defesa do planeta, economia mundial e protecção dos recursos naturais.«O Nosso Futuro comum» tinha a tarefa facilitada quanto aos diagnósticos, porque surge na senda de numerosos documentos e alertas (como o estudo sobre «Os Limites do Crescimento») que desde a década de 70 vinham chamando a atenção para a crescente degradação do ambiente, esgotamento dos recursos naturais, contaminações tóxicas acumulando-se tragicamente, aumento caótico das grandes cidades, ameaças sobre o futuro da Humanidade que eram em boa parte ignorados pelos decisores em todo o mundo. Nessa altura, havia já consciência das poluições e seus perigos; da perda de biodiversidade, da escassez cada vez mais nítida de água potável, e começava já a ficar clara— pelo menos em meios científicos— a responsabilidade humana na alteração gradual do clima. Isto num mundo onde a população crescia vertiginosamente e muitas cidades se tornavam megalópoles a um ritmo espantoso.
Mas as Nações Unidas apostaram num grupo de personalidades cuja autoridade e isenção não pudesse ser posta em causa. Estabelecer consensos, não apenas sobre o diagnóstico, mas sobre medidas concretas e programas de acção definidos, não seria tarefa fácil, no contexto de uma situação mundial muito dominada ainda pela lógica bipolar da «Guerra Fria» que ocultava geralmente todos os outros problemas.A Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento desenvolveu os seus trabalhos durante 3 anos e veio a «dar à luz» o famoso relatório que tomou, para a posteridade, o nome da sua presidente, a senhora Gro Harlem Brundtland, então primeira-ministra da Noruega.
«O Nosso Futuro Comum» consagra definitivamente o conceito de «desenvolvimento sustentável» procurando uma síntese operativa entre o desenvolvimento económico e a defesa dos ecossistemas e alargando o campo de visão para os problemas da equidade social e combate à pobreza, cooperação internacional e práticas menos predadoras para o ambiente.O relatório define desenvolvimento sustentável como «o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer as capacidades das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades» --o que enfatiza a ideia de «pacto de gerações» que deve assegurar, no tempo, uma nova forma de organizar as sociedades humanas e de gerir os recursos mundiais que são finitos e dos quais, afinal de contas dependemos.
O Relatório Brundtland aponta recomendações como limitar o crescimento da população, garantir recursos básicos como água, energia e outros a longo prazo, preservar a biodiversidade e os ecossistemas, diminuir o consumo de energia e desenvolver tecnologias energéticas renováveis, aumentar a produção industrial de países não industrializados via tecnologias limpas, controlar a urbanização desordenada e atender a necessidades básicas de saúde, educação e habitação.
A consciência de que não mais é possível pensar num crescimento exponencial da economia sem contabilizar o efeito desse crescimento em termos de ambiente e de esgotamento de recursos; a constatação dos enormes desequilíbrios gerados, em termos de desigualdade na distribuição da riqueza e de degradação da Terra; dois eixos essenciais das propostas deste documento.
22 anos não foram suficientes para salvar o planeta; se é verdade que a consciência ambiental cresceu em toda a parte e se integrou nas preocupações dos cidadãos e da comunidade internacional, também é certo que as grandes linhas do processo de destruição da Natureza, tantas vezes em nome de uma falsa noção de progresso, permanecem dominantes. Muito se conseguiu, em todo o caso, e o conceito de desenvolvimento sustentável não mais haveria de deixar a «agenda» político/mediática-- sem que os seus princípios sejam sempre realmente concretizados, como se sabe.
Um marco na história da consciência e da acção mundial pela defesa da Terra e do futuro da Humanidade, apesar das evidentes insuficiências. Em grande parte, o relatório Brundtland esteve na base do que veios a ser a Conferência Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992, a Eco92 de onde saiu o essencial das traves mestras da «agenda ambiental» do mundo, as Agendas 21, a biodiversidade, as alterações climáticas e tudo o mais que hoje faz parte de um combate quotidiano, e de desfecho sempre incerto, por um mundo melhor, mais limpo e mais justo, à altura de uma relação inteligente e durável entre Homem e Natureza.Bernardino Guimarães

«O Nosso Futuro Comum» consagra definitivamente o conceito de «desenvolvimento sustentável» procurando uma síntese operativa entre o desenvolvimento económico e a defesa dos ecossistemas e alargando o campo de visão para os problemas da equidade social e combate à pobreza, cooperação internacional e práticas menos predadoras para o ambiente."
ResponderEliminarMas , no entanto, continua tudo igual. O que se passa? O egoísmo não vai terminar ?