quarta-feira, maio 26, 2010

O REGRESSO DAS LONTRAS


1) O Febros - rio que corre no meio dos 35 hectares do Parque Biológico de Gaia e que nasce em Seixozelo e termina em Avintes – conta de novo com a presença de um seu notável hóspede, há muitos anos ausente, a lontra. Este mamífero carnívoro tinha sido assinalado, pela última vez no Febros nos idos 1987.
Um macho desta simpática espécie foi capturado acidentalmente junto a um cercado onde estão quatro outras lontras para criação em cativeiro. Devolvido à Natureza, talvez não seja já indispensável a reintrodução de lontras pela mão do Homem— a espécie encarregou-se de reocupar o lugar que foi seu, o que atesta por outro lado a razoável qualidade das águas do rio e o bom estado do seu ecossistema, ainda há pouco tempo afectado por contaminação acidental.
Se as lontras sempre ali estiveram, ocultas e evitando os olhares humanos, ou se recolonizaram o Febros através dos meandros da bacia do Douro, é coisa que não se sabe. Mas que é uma bela comemoração do Ano Internacional da Biodiversidade (e do dia 22 de Maio que foi dedicado ao tema) — lá isso é!
Este regresso devolve-nos a esperança necessária para encararmos a possibilidade de uma certa recomposição da Natureza, mesmo dentro dos perímetros urbanos, caso para isso haja vontade e determinação.
A biodiversidade, a diversidade de formas de vida, não pode ser muleta de discursos vazios. A Natureza não é uma abstracção, nem sequer o refúgio conceptual onde se reciclam, na teoria, algumas más consciências. Trata-se de garantir o nosso futuro ligado— como sempre esteve— ao futuro das outras espécies. Um rio que esteja morto para as lontras estará morto para nós, mais tarde ou mais cedo. Uma teia subtil e complexa, cada vez mais entendida pela ciência, envolve aquilo que são as nossas próprias, humanas, condições de vida. Progredir será então o avanço que conseguirmos na compreensão do nosso lugar na Natureza, em busca de uma outra relação com os tais «recursos naturais» que são finitos e esgotáveis e por isso devem ser geridos com parcimónia e inteligência.
2) A Quercus chamou recentemente a atenção, para «a existência de perigo para o ambiente e para a saúde pública, resultante da aplicação de herbicidas dentro dos perímetros urbanos e em diversas estradas, situação que ocorre com frequência diária em dezenas de concelhos de todo o país».
Considerando que o uso de herbicidas se encontra em Portugal fora de qualquer controlo, a Quercus assinala que «foram detectados e denunciados a esta Associação diversos casos de envenenamento acidental de animais, de contaminação de linhas de água e de desrespeito pelas normas básicas de segurança na aplicação destes produtos químicos.»
No comunicado que divulgou a associação ambientalista, informava-se que três compostos químicos são os mais usados como herbicidas, a saber o Glifosato, o Glifosinato de amónio e o Paraquat, todos com elevado potencial de risco para a saúde humana e a biodiversidade.
Este problema não é novo e sabe-se que muitas entidades, incluindo autarquias no tratamento de espaços verdes, limpeza de bermas de estradas e operações afins, usam e abusam destes compostos perigosos. Existem— e a Quercus salienta esse facto— métodos alternativos para o controlo de vegetação herbácea/ arbustiva e daí o apelo aos autarcas para que revejam esta situação.
Não deixa de ser preocupante que os nossos jardins possam ser, afinal, tóxicos e impróprios para a biodiversidade…e para as pessoas! Paradoxo lamentável que uma «jardinagem ecológica» e mais «natural» pode ultrapassar. Ficaremos todos a ganhar com isso!
Bernardino Guimarães
( Crónica publicada no Jornal de Notícias, 25/5/010)

Sem comentários:

Enviar um comentário