segunda-feira, setembro 13, 2010
ESTÁ TUDO LIGADO
Duas coisas foram constantes neste Verão: os incêndios florestais e a constatação do desgaste e erosão da costa marítima. Num caso o país arde mal o calor aperta e o vento sopra, seco; no outro os cidadãos, mais próximos e atentos às praias, podem ver como, em tantos locais, o mar avançou e a linha da costa encolheu, efeito que não deixará de se agravar durante o Inverno.
Ambos os problemas implicam custos humanos e materiais e ambos preenchem noticiários com sede de acontecimentos que colmatem o vazio estival. Ambos são dramas ambientais que reflectem um território em crise, desorganizado e em processo de degradação.
Claro que se trata de duas coisas diferentes e até distantes, fogos lambendo matas e campos, falésias ruindo ou dunas desaparecendo de vista. A Ecologia, ciência de relacionamento, pode ajudar-nos a ver a «fotografia grande» onde ficam claros, porém, os pontos de ligação entre factos que julgávamos, desatentos, completamente separados. Tudo se relaciona, ou como se diz, «isto está tudo ligado».
A verdade é que os principais dramas que nos assaltam o Verão português fazem parte da mesma doença cujas causas são—diz-nos a Ciência—o desprezo pelas leis mais elementares da natureza, que vamos ignorando alegremente até que as tragédias sucedam para mal de todos.
Relacionar é aqui a palavra-chave. As causas das coisas nem sempre são assim tão misteriosas, assim nos demos ao trabalho de as pensar de forma integrada e global, em vez de sectorial, fragmentada, parcial como costumam fazer os tecnocratas e os governantes.
Por exemplo: os fogos nas matas serão esquecidos, ao cair das primeiras chuvas, à falta de telejornais que deles nos lembrem, mas os seus efeitos podem revelar-se bem rápidos e é mesmo no Outono e Inverno que se manifestam. Assim, derrocadas e deslocamentos de terras, bem como cheias e inundações, não serão em muitos casos alheias aos fogos, porque os cabeços dos montes e as montanhas sem coberto vegetal, permitirão que as chuvas arrastem as terras até aos vales e aos rios, provocando a erosão dos montes ( que ficarão sem solo fértil) e a subida da água ou o deslizar de terras, para os locais mais baixos onde se depositará todo esse entulho.
Mas quem se lembra de relacionar as duas coisas, se não sucedem ao mesmo tempo? É curta a nossa memória, realmente!
Por outro lado, todos podemos verificar que as areias faltam na costa para deter o avanço do mar. Em parte porque se permitem urbanizações no litoral e porque os areeiros continuam a sua tarefa insensata. Mas também porque as barragens, cada vez maiores e mais numerosas, não deixam os sedimentos fluir do interior através dos rios rumo à costa marítima, como sempre sucedeu.
Mas quem vai agora dizer que as barragens têm a ver com a carência de areias na praias?
Bernardino Guimarães
( Crónica na Antena 1, em 7/9/2010)
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20 Valores,seria a nota que um aluno meu teria . Parabéns.
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