A reportagem, assinada por Dora Mota, aqui no JN há dias, veio ajudar a esclarecer o escândalo continuado do Rio Tinto. Um rio de indignação percorre qualquer leitor ao ver descrita a incompetência, a incúria e indiferença conduzindo ao estado de coisas que hoje podemos ver: a história do Tinto, que corre entre Ermesinde e o Porto, devia ser caso de estudo. Transformado em esgoto, destruído pela urbanização selvagem, ignorado por autarcas, chorado por muitos que o conheceram como espaço de pesca e de banhos, corredor ecológico vital que nos últimos anos se degradou de forma inimaginável. Na peça do JN ficou claro o processo de destruição: a construção sem regras nem ordem foi sitiando o rio, ocupando as suas margens, entubando alguns dos seus troços, estreitando o seu leito, arruinando a vegetação ribeirinha. A falta de saneamento faz o resto, de forma perversa, pois o rio que cheira mal e se transforma em caneiro de toda a sujidade, oferece a alguns, sob aplauso quase geral, a oportunidade, não de despoluir, mas de entubar mais ainda, para que se possa construir sobre o que foi o seu leito milenar. Mais construção desordenada e o rio passa a ser uma «não/existência.» Longe da vista, longe do coração. Pobre rio e pobre de quem em torno dele vive!
Neste jogo perverso e irresponsável destaca-se a Câmara Municipal de Gondomar. Mas os outros municípios, Valongo e Porto, não acertaram agulhas para uma recuperação que ainda é possível.
Como não se respeitam os leitos de cheia, ecológica e historicamente assinalados, que pelos vistos nem constam do planeamento municipal, eis que se põem em risco a vida e os bens das populações. Acresce que o traçado do Metro veio potenciar erros e perigos, entubando mais o rio e inutilizando áreas verdes que poderiam aumentar a qualidade de vida dos cidadãos. Em Dezembro, com a cheia, percebeu-se que a asneira estava feita. Quem a desfaz? Quem rompe o nó górdio desta situação, cooperando para salvar o rio Tinto, ou o que dele resta?
Já que se fala em rios, às vezes este cronista treme quando ouve falar em «limpeza» de um rio ou ribeiro. Por ignorância e facilidade, e se calhar com boa intenção, muitas vezes se procede, não tanto à remoção do lixo que superabunda nas margens e no leito dos cursos de água, mas ao corte raso da vegetação ribeirinha, das árvores e arbustos que ajudam a fixar o solo das margens e são filtros naturais dos rios, além de albergarem apreciável biodiversidade e serem um regalo para a vista. «Limpa-se» e o resultado é ficar o rio mais sujo, mais pobre e mais indefeso.
O estado dos nossos rios é deplorável. A maioria deles apresenta níveis inaceitáveis de contaminação. Acresce que a construção de barragens a esmo tende a piorar a situação. Basta pensar no rio Tâmega e no que lhe vai suceder, uma tragédia sem remédio que não faz pestanejar as tecnocráticas mentes que nos governam. Mas isso merece já outra crónica.
Falemos de coisas positivas: o projecto Limpar Portugal, que quer pôr milhares de portugueses a contribuir para a limpeza das matas e dos campos, já no dia 20 de Março.
Partindo do relato de um projecto desenvolvido na Estónia em 2008, um grupo de amigos decidiu propor “Vamos limpar a floresta portuguesa num só dia”. Em poucos dias estava em marcha um movimento cívico que conta já com muitos milhares de voluntários registados.Muito ainda há a fazer, pelo que toda a ajuda é bem vinda!Quem quiser ajudar como voluntário só tem que consultar o sítio do projecto na internet, www.limparportugal.org, onde tem toda a informação de como o fazer.
Bernardino Guimarães
(Crónica para o Jornal de Notícias em 2/3/010)
quarta-feira, fevereiro 03, 2010
LIMPAR PORTUGAL
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